terça-feira, 23 de outubro de 2012

[Entrevista Nacional] - Carla M. Soares

Bom dia (ou boa tarde), caros seguidores :DD

Hoje deixo-vos uma entrevista que adorei fazer e que também estava guardada no baú há algum tempo! A entrevistada é nada mais, nada menos do que Carla M. Soares, autora de Alma Rebelde, A Grande Mão (ainda não foi publicado e é anterior ao primeiro), A Chama ao Vento (ainda em análise pela PE). 

Convido-vos também a visitarem o blogue da autora, MonsterBlues, aqui

Obrigada Carla pela simpatia e prontidão com que te disponibilizaste a ceder-nos esta entrevista!!

Ora leiam :D
Ivonne Zuzarte (aka Ray*)
Entrevista


O teu primeiro romance publicado foi um romance de Época. É um género que requer muitas horas de pesquisa e revisão. Porquê este género tão pouco visto em Portugal?
Na verdade, não há um motivo. Não pensei “agora apetece-me escrever um romance de Época”. Tudo começou com uma carta, uma das que Ester escreve à prima. Tinha lido algures um artigo que falava da comunicação e lembrei-me de que, noutros tempos, era com cartas que se comunicava e que levava imenso tempo. Escrevi uma dessas missivas, pensando no tom e na forma de pensar e redigir de outrora, e as personagens e a narrativa foi surgindo e desenvolveu-se naturalmente. Mudou muito conforme a fui escrevendo! Mas atenção, costumo sempre defender que o Alma Rebelde é, de facto, um romance de Época, ou seja, inserido numa época que não é a a contemporânea, mas não é um romance histórico. Há vários autores desse tipo de romance bastante conceituados e com qualidade na nossa praça. O Alma está integrado historicamente, espero que bem, mas o facto de assumir uma perspectiva intimista, de uma personagem com preocupações específicas, não convida a, por exemplo, um enquadamento político ou económico detalhado. Não foi a intenção. Claro que a contextualização exige pesquisa, e tentei ser cuidadosa na verificação dos factos, para evitar o erro, mas houve um pouco mais de flexibilidade. 

Disseste uma vez que a escrita surgiu na tua vida depois dos 30 anos, em que lias muita fantasia. Consegues explicar-nos como surgiu ou simplesmente aconteceu?
Não comecei tão cedo como outros autores, não. Em (muito) jovem escrevi uns poemas, uma ou outro conto de péssima qualidade, mas deixei de fazê-lo na faculdade e durante muito tempo não senti nenhuma predisposição para a escrita. Sempre li muito, claro. Li os clássicos e outros, portugueses e estrangeiros, e estudei literatura. Mas não escrevia, nem me apetecia escrever. A certa altura descobri a fantasia e li bastante do género, Tolkien, Marillier, Zimmer-Bradley, Ursula LeGuin, Anne Bishop, muitos outros. Surgiu-me uma ideia e pus mãos ao trabalho, curiosa para descobrir se conseguia seguir com ela até ao fim.  E levei. Tem umas 300 páginas, chama-se A Senhora do Rio e gosto muito dele. Desde então não sei passar sem escrever!

Terminaste A Grande Mão há pouco tempo e tens outro original, de título provisório A Chama ao Vento, a ser analisado pela PE. Tens mais algum trunfo na manga, para além dos que tens guardados, do qual nos possas falar um bocadinho?
Ao contrário, A Grande Mão é o mais antigo dos três livros, já tem uns cinco ou seis anos. Foi o segundo que escrevi. A PE não se interessou pelo género, muito diferente do Alma Rebelde (é aventura/fantasia), e portanto é meu para publicar como quiser. Ainda não sei se farei alguma coisa com ele, vai depender das opiniões. Não vou insistir se não tiver qualidade! A Chama ao Vento é um nome provisório, e não há garantia nenhuma de que a PE venha a publicá-lo, ou com esse título. Tenho outras coisas de fantasia / fantástico que nunca verão a luz do dia (aqui estou a rir-me de mim própria) a não ser nas casas dos amigos, e outras que um dia talvez sigam o caminho d’A Grande Mão. E estou a meio de outra história de época, no pós-Ultimato agitado e com uma crise tão grave como a actual, com uma jovem viscondessa muito diferente da Joana, um irmão republicano, um duque e um cavalheiro inglês. Vamos ver o que lhes sucede.

O teu blogue monster blues surgiu há mais de dois anos e meio. Pelo menos, o primeiro post data de 26 de Março de 2010, o qual terminas a dizer “Há mesmo é um monstro na imaginação.”. Como tiveste a ideia de iniciar um blogue?
Olha, não me lembrava dessa frase, mas gostava dela, se a lesse noutro lado! No início não tinha ideia nenhuma do que era ter um blogue, e nem me lembro porque decidi ter um. Escrevia umas coisas, sem nenhuma orientação específica. Entre Janeiro e Agosto de 2011 até esteve parado. Só no verão de 2011 é que me apercebi de que muitos blogues falavam sobre literatura, tinham seguidores, faziam passatempos, etc. Achei que, para quem lê tanto e escreve, era o caminho lógico e o que me agradava. Mas não tenho parcerias, nem passatempos - o único que fiz foi com o meu próprio livro, quando saiu - nem rúbricas especiais. Escrevo o que me apetece, opiniões, uns textos, de vez em quando um desbafo. É meu (estou a sorrir).

Com que vantagens e desvantagens te tens deparado por ter um blogue?
Há autores que têm blogues relacionados com os seus livros, mas o meu não é. Falo neles de vez em quando, coligi as opiniões que foram saindo nos blogues sobre o Alma, mas nem estão actualizadas. Talvez um ou outro leitor se tenha apercebido de que o livro existe através do blogue, não sei. Claro que agora utilizei-o para permitir a beta-reading d’A Grande Mão, mas não é um livro “publicado”. Enfim. Um blogue dá trabalho, mesmo sem parcerias, mas muito prazer também. Organizo as minhas ideias quanto aos livros, sou obrigada a reflectir nas razões porque gosto ou não deles, e a usar com cuidado as palavras quando não gosto - embora não passem de opiniões - porque acho que todo o esforço de escrita merece respeito. Opinar tem um reverso: por vezes dou por mim a ler e a pensar no que direi, o que por vezes rouba um pouco da alegria de simplesmente ler. 

És professora e estás a fazer o doutoramento no Instituto de História da Arte. De que forma organizas o teu tempo para conseguires conciliar as aulas e tudo o que isso acarreta, a leitura, a escrita, ter tempo para a família e, de igual forma, para ti própria?
Sempre achei que as minhas horas se multiplicavam conforme precisava delas. Até aqui, cheguei a tudo, e nunca me senti excessivamente sobrecarregada. Uma verdadeira super-mulher, eheheh! Este ano, pela primeira vez, tenho dúvidas sérias de que consiga esticá-las o suficiente, vai ser preciso um milagre. O que vai ficar a perder? Provavelmente aquilo que me exige uma concentração maior durante horas seguidas, o doutoramento. Consegui concluir com sucesso os dois anos de curriculares, são dez seminários com os respectivos ensaios, mas como optei por sair da box - sou de Letras - o trabalho avança mais devagar. Com nove turmas e tudo o mais que faz parte da minha vida e é importante, não estou certa de me sobrar o necessário para escrever uma tese adequada sobre o fantástico na pintura portuguesa contemporânea. Acaba-se a super-mulher, começa a super-dor-de-cabeça.

Tens alguma rotina de escrita (e reescrita) da qual nos possas falar?
Com tanto trabalho, é difícil manter uma rotina. Tento escrever um pouco todos os dias, mas com frequência o tempo que tenho reduz-se a algumas horas aos fins de semana, de manhã. Escrevo muito melhor sozinha com o meu netbook numa mesa de café, produzo muito assim. Em geral tenho uma ideia da história, que não é rígida e muitas vezes acaba mesmo por alterar-se conforme as personagens “crescem” e ganham densidade. Por vezes dou por mim a pensar que a minha personagem jamais faria certa coisa que tinha planeada para ela, ou que faz muito mais sentido que a narrativa siga um caminho diferente. E sigo-o, vou atrás das personagens. Costumo escrever, escrever, e depois revejo. Por vezes paro e estou algum tempo só a rever e a reescrever, antes de continuar. Reescrevo muito. Corto partes, mudo diálogos, introduzo novos capítulos pelo meio, se fizerem falta à intriga ou às personagens... é um processo muito flexível.

Consegues descrever-nos o apoio que recebeste da editora, da família, dos teus alunos, dos amigos/colegas…?
Esta é fácil: tive muito apoio de todo o lado. Os alunos, em particular, foram muito expontâneos e, a partir do momento em que souberam que ia publicar um livro, de quando em quando faziam perguntas, queriam saber. Tive uma turma de 9º ano, minha há três anos, que desatou a aplaudir no corredor no dia em que o livro saiu... foi embaraçoso mas muito recompensador. E tive vários alunos no lançamento, o que me deixou muito contente. Claro que a família ficou orgulhosa, em especial... adivinhem, pois claro, a minha mãe! Tanto faz que tenhas 4 anos como 40, mãe é mãe. Mas o meu marido e filhos também me mimaram muito. A editora portou-se sempre bem, o processo foi longo mas a comunicação a melhor possível, as respostas aos emails quase imediatas, encontramo-nos algumas vezes, e tentaram, creio, colocar o livro o  melhor possível. Promover um livro de uma desconhecida não é fácil, mas obtiveram boa exposição nas livrarias e algumas pequenas entrevistas na rádio... O mais dificil tem sido esperar pelas opiniões sobre o livro, e os altos e baixos, e as dúvidas sobre o trabalho que se fez e se virá a ter outro.

Com a vida agitada que tens tido ultimamente, consegues falar-nos de um episódio engraçado ou especialmente gratificante que tenha ocorrido que envolva Alma Rebelde?
Sabem o que se costuma dizer acerca dos casamentos, que “boda molhada é boda abençoada”? Pois é. O lançamento foi planeado para o dia 25 de Abril, uma data adequadíssima para alguma rebelião, na Feira do Livro, AO AR LIVRE... e não é que depois de tanto tanto planeamento para que tudo corresse o melhor possível, chovia a cântaros? Não falo de uma chovinha molha-parvos, era um verdadeiro dilúvio bíblico! Mesmo assim, foi preciso reorganizar a tenda para abrigar quem compareceu, e não coube toda a gente debaixo dela! Tiveram que arrastar os chapéus de sol e havia gente de guarda chuva, todos molhados como pintos. Até havia um funcionário da PE a levantar uma parte da tenda de vez em quando, para escorrer a água e evitar que caísse tudo na cabeça dos convidados. Ao mesmo tempo foi gratificante, porque a maior parte das pessoas não deixou de aparecer!

Para terminar, Carla, queres deixar uma mensagem para os leitores e aspirantes a leitores?
Que leiam. Leiam de tudo, aquilo de que mais gostam e coisas fora da sua zona de conforto, clássicos, romances de cordel, leituras simples, complexas, BD, revistas, jornais. Ler exercita o cérebro, mantém-nos vivos e faz-nos mais inteligentes. Que formem e valorizem as suas opiniões pessoais sobre os livros, mas principalmente que tirem da leitura muito prazer! Muito obrigada pela tua entrevista, boa sorte para o blogue e boas leituras!

Obrigada nós, Carla! 
Boa sorte com os dois originais que já tens prontos para publicar. Boa sorte com o doutoramento. Boa sorte com o Blogue e com a vida de "super-mulher" :D


***

Nota: A capa de A Grande Mão não é a definitiva. Até ao momento, foram disponibilizadas 3 pela autora, aqui e aqui.

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