quarta-feira, 1 de agosto de 2012

[Opinião] "Soberba Tentação" , de Andreia Ferreira.



Autora: Andreia Ferreira
1ª Edição: Julho 2012
Editor: Alfarroba
Colecção: Romance
PVP: 15€
ISBN: 978-989-8455-41-3
Formato: 21 x 14 cm
Páginas: 300


Sinopse


Os demónios já deixaram marcas na vida da Ana e da Raquel e a Carla começa a sentir algumas dificuldades em encontrar-se.

Entre lacunas na memória, sentimentos e novas preocupações, surge uma existência virada do avesso com a linha da vida mais ténue do que nunca.

Com a ausência do Caael, assomam revelações que levantam um plano ancestral de uma disputa entre iguais. A Carla vê-se num tabuleiro de xadrez, como um rei isolado, com a rainha a jogar contra ela. Depois de descobrir que o sobrenatural não representa um medo irracional e que as criaturas caminham lado a lado com os humanos, a Carla tem de enfrentar as consequências do seu envolvimento com o Caael.


Crítica/Opinião:
 por:  Isabel Alexandra Almeida/Os Livros Nossos
   "Soberba tentação" é o segundo volume da Trilogia "Soberba", da jovem  autora Andreia Ferreira. Nesta obra acompanhamos a evolução, surpreendente diga-se, do percurso das personagens de Soberba Escuridão, com especial destaque para Carla (a principal Personagem feminina), o seu namorado Caael ( um misterioso e sensual anjo Caído), as melhores amigas de Carla - Ana (agora transformada em Vampira)e a sofredora e ingénua Raquel, assumindo um papel de destaque neste livro Ricardo ( um ser híbrido, Vampiro, humano e demónio), que fica incumbido de zelar pela vida de Carla durante um período de ausência de Caael.

   Todas as personagens evoluem, sendo os humanos envolvidos na luta entre o bem e o mal, e numa guerra inevitável entre seres sobrenaturais, para a qual acabam por ver-se arrastados. Carla vive momentos de paixão, desejo, angústia e culpa que a revelam ainda mais rica em termos psicológicos do que no primeiro livro da trilogia, sendo marcada pelo conflito permanente entre a sua existência antes de se ver envolvida no mundo sobrenatural (que julgara apenas existir nos livros do género fantástico de que era ávida leitora)e os perigos e novas emoções que agora experiencia com a sua ligação ao sobrenatural.

   Mais uma vez, o enredo mostra-se engenhoso, original (sem se colar a estereótipos de obras já existentes)e a narrativa surge perante os olhos do leitor num ritmo bastante rápido, criando um permanente suspense, e a vontade de acompanhar os ulteriores desenvolvimentos, criando-nos dúvidas sobre as reais intenções e sentimentos de algumas personagens, ao ponto de nos identificar-mos com Carla (surgindo uma ainda maior empatia com esta personagem, com a qual partilhamos as incertezas e desconfianças oscilantes com os seres sobrenaturais com que convive e que vê afectarem o seu núcleo de amigos mais próximo, começando já a recear pela segurança da sua família).

   A acção narrada surge pautada por várias reviravoltas, que conseguem surpreender o leitor, ou seja, é impossível prever o que se seguirá, e este tipo de narrativa é o que distingue os escritores comuns daqueles que se mostram já acima da mediania.
   Quanto ao estilo de linguagem utilizado, também se revela evidente uma evolução positiva da mesma, no sentido de um amadurecimento da escritora (enquanto tal) que acaba por ficar patente no modo como são construídas as frases (de modo mais elaborado). Os diálogos surgem ainda mais contextualizados com descrições que permitem complementar os estados de alma das personagens, construindo-se a desejada tensão permanente que se pretende evidenciar.

   Ainda a merecer destaque, o crescendo de sensualidade que se vai notando ao longo do livro, e a forma por vezes até poética como a autora a coloca, considerando-se por exemplo, alguns dos momentos de intimidade entre Carla e Caael, e o modo como são descritos - " (...) Perdi toda a consciência do tempo, do espaço, da física, da ordem como o mundo corria.(...)Totalmente na posse dele. Não havia como contestar o quanto eu me deixara entregar, o quanto ele me envolvia a alma e o corpo."

    Se é certo que há momentos de verdadeira prosa poética, também não são esquecidos os momentos de verdadeiro terror, tão do agrado de qualquer amante do género fantástico, aqui a autora arriscou, na crueza de algumas descrições, mas foi muitíssimo bem sucedida - " Os gritos dele ecoaram no cemitério, o vento levou-os para as aldeias."

   As expectativas não só não saem goradas, ao ler este livro, como são ultrapassadas, está de parabéns Andreia Ferreira por ter conseguido pegar na sua história inicial, desenvolve-la a bom ritmo (não há momentos parados no livro), manter constantes os níveis de interesse do leitor, e surpreendendo-o pela positiva.

   Pensamos que não seria descabida uma internacionalização desta obra! Parabéns Andreia Ferreira, e que venha o terceiro volume!



2 comentários:

  1. Como eu ainda não li o livro, o que vou dizer agora pode ser considerado como um propositado atirar de achas para a proverbial fogueira, mas garanto que isto advém apenas de ler a opinião e não ter compreendido um ponto. Como é que se pode dizer de algo que é descrito como tendo "os humanos envolvidos na luta entre o bem e o mal, e numa guerra inevitável entre seres sobrenaturais, para a qual acabam por ver-se arrastados" não recai em clichês, quando este é dos maiores clichês na história da Literatura? Isto sem contar com os anjos, caídos ou não, os lobisomens e os vampiros.

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  2. Nota Prévia - os esclarecimentos seguintes contêm SPOILERS, recomendamos a sua não leitura a quem pretenda ler esta trilogia:

    Caro Anton, passo a prestar alguns esclarecimentos acerca da meu artigo que talvez o ajudem a entender melhor a minha ideia, ressalvando que talvez este artigo seja amplamente entendido de forma mais fundamentada por quem acompanhe a trilogia em questão, com a prévia leitura do volume inicial Soberba Escuridão, cuja review poderá também encontrar aqui no blogue.
    Muito embora se possa considerar um cliché a temática geral da obra, e neste ponto qualquer que seja o tema base é dificil senão impossível ser original, a originalidade da autora consistiu em vários aspectos, e isto enquandrando-se também no primeiro volume:
    - O tipo de seres sobrenaturais (de várias espécies e hierarquias) vai sendo gradualmente revelado aos leitores, não o sendo de forma óbvia nem previsível;
    - A acção enquadra-se na realidade Portuguesa, o que é um factor de originalidade a assinalar, pois que a maioria dos autores de género fantástico (pelo menos os mais divulgados, e refiro-me aos comtemporâneos) são anglo saxónicos, e até já li autores portugueses que situam as suas histórias nos Estados Unidos (e.g. Memórias de um caçados de Vampiros, de Ardo Antas, também objecto de review aqui no blogue).
    - É inicialmente descrito com algum humor e bastante detalhe rigoroso o ambiente escolar no ensino secundário Português;
    - Há uma equilibrada combinação de sensualidade, paixão, terror, conflitos interiores das personagens que conferem ritmo à narrativa e melhor a contextualizam, ao invés de retardarem o seu progresso;
    - Não há a "colagem" a histórias tão nossas conhecidas (e.g. Crepúsculo), tendo a autora sido verdadeiramente original na abordagem;
    - Há mesmo um vocabulário específico que é criado e que também se separa de modelos literários já existentes (não explorámos estes aspectos com detalhe para não servirem de spoilers que evitamos tanto quanto possível) - (e.g. glamour de um vampiro).
    Em suma, o que pretendi demonstrar, embora sem spoilers, é que podemos pegar num tema já usado e ainda assim fugirmos dos estereótipos (gosto mais desta palavra do que de cliché, talvez pela minha formação em curso em psicologia)e sermos originais e a Andreia fê-lo de modo exemplar.

    Apenas uma palavra final, esta minha análise crítica tem subjacente, por um lado, a leitura da obra integral da Andreia, e por outro, a leitura habitual e abundante de obras do fantástico e sobrenatural, com especial incidência em "histórias de vampiros", tanto de autores mais clássicos como Bram Stoker, ou Le Fannu, passando por Stephenie Meyer, Charlaine Harris, P.C. Cast, J.R. Ward, e por outra os meus conhecimentos de psicologia.

    Isabel Alexandra Almeida

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