domingo, 9 de setembro de 2012

[Ponto M.] - "As três Sereias", de Irving Wallace





Sinopse:
“As Três Sereias, nome da uma ignota ilha dos Mares do Sul, é um romance dos mais significativos de Irwing Wallace. Um grupo de cientistas Norte-Americanos, altamente “civilizados”, que parte para uma ilha para estudar os seus costumes, vive enfim, profundos dilemas que põem em causa os padrões familiares e sexuais da sociedade ocidental. As conclusões – provavelmente irónicas -, admitem que, afinal, a felicidade (e entre ela, a conjugal), pode estar retida na forma de viver de sociedades que são consideradas habitualmente “selváticas”

Opinião:

Começo por dizer que nunca tinha ouvido falar deste livro e portanto não sabia bem o que esperar deste clássico de Irving Wallace.

 "As três sereias" é um livro diferente de tudo que já li. O autor consegue levar-nos numa viagem até às regiões mais selvagens e desconhecidas do oceano Pacífico.
A narrativa centra-se num grupo de dez cientistas americanos que são convidados a explorar a ilha das Três Sereias durante seis semanas, uma ilha pouco funcional aos olhos desta dezena de investigadores, onde tudo é simples e natural, sem intervenções do Homem. Entre este grupo encontram-se a famosa antropóloga Maud Hayden e mais nove observadores, sem nada em comum uns com os outros mas todos eles com um passado que querem deixar para trás, vendo esta viagem a ocasião perfeita para começar uma nova vida.

“Uma ilha vulcânica, um pedaço de terra e de selva, tão isolado no mar poderoso que nem sequer se encontrava no mapa. Um povo, uma cultura, tão estranho que nada sabia de polícias, de votos, de lâmpadas eléctricas, filmes, máquinas, canções de natal, soutiens, telefones, bombas nucleares, lápis, cesarianas.”

Temos entre outros, um professor, um psicanalista, um fotógrafo e uma enfermeira. Todos eles com motivos para embarcar nesta aventura e conhecer este paraíso no meio da Oceânia, algo que irá para além da descoberta de um novo cenário, irá ser uma ponte entre o passado deixado na América e um futuro numa ilha desconhecidas aos olhos de todo o mundo.

As três sereias, apresenta-nos um povo diferente de qualquer habitante comum do Planeta Terra. Nesta sociedade, embora haja leis, direitos e deveres, o mais incomum e diferente são os hábitos sexuais desta civilização. Não há qualquer coartação sexual, há uma total liberdade nos parceiros, desejos e fetiches. Digamos que a vida sexual desta gente é bastante ativa e sem qualquer pudor. O que para este grupo de cientistas e para os leitores pode parecer um choque e quase irreal. Vivemos num mundo onde em várias culturas (incluindo a nossa) o sexo continua a ser tabu e motivo de constrangimento e também devido a isso, não ser um assunto de conversa aberta e de termos apenas uma visão mais ocidental sobre as relações sexuais, esquecemo-nos que em outras partes do mundo, o sexo é diferente. "As três sereias" embora seja uma ilha fictícia, não duvido que represente muitos povos primitivos e selvagens, escondidos aos olhos do Homem mais consciente.

Quanto às práticas sexuais observadas nesta tribo, temos por exemplo a perda da virgindade aos 16 anos onde todos as habitantes jovens são conduzidas à Cabana Sagrada para terem a cerimónia habitual. São submetidos a um exame físico especial efectuado por uma anciã da Hierarquia do Casamento; depois disto escolhem o seu parceiro para ter a primeira relação sexual a que chama Amor físico. Outro ponto de diferença é o vestuário, os homens andam apenas com uns pequenos sacos púbicos, e as mulheres com uns curtos saiotes que não esconde muito.

O mais interessante para mim, nem foi as diferenças sexuais, pois isso eu sei que não é igual em todo o lado, o que talvez mais me interessou foi que ao contrário do que este grupo pensava e desejava, incutir algumas normas mais civilizadas a estes habitantes, o que aconteceu foi o contrário, como por exemplo o casal Marc, filho de Maud e a sua mulher Claire. A mudança de ambiente e o impacto que os padrões das 3 sereias, conduziram a estas duas personagens a terem comportamentos fora do normal, e sabendo o leitor que são casados esperava-se uma conduta matrimonial ocidental. Marc ao princípio não consegue habituar-se à ilha vendo esta apenas como um refúgio à vida que anteriormente levava, já Claire aos poucos vai adaptando o estilo de vida das mulheres deste local, começando  a desenvolver comportamentos estranhos e colocando o seu casamento em risco. Ao longo do livro vemos a relação dos dois deteriorar-se. Tehura, uma nativa, também começa a ser influenciada pelos visitantes, principalmente por Marc o que não lhe trará uma vida feliz. Outra personagem que também descobriu-se a si mesma foi Harriet, que encontrou na ilha um local onde a aparência física não importa, ao contrário de onde vem.

O que mais gostei foi que este livro é obra dupla. Tanto é ficção como também não é. Temos uma narrativa, com personagens, princípio, meio e fim mas por outro lado temos um documentário sobre as relações humanas de uma sociedade indomesticável. Wallace tem a habilidade de nos mostrar que as práticas e os costumes de uma sociedade são próprios dessa cultura e são perfeitos aos olhos dessa sociedade e que não podem ser mudados e introduzidos novos valores por outros totalmente diferentes. Nem todos podemos compreender mas temos de respeitar e beneficiar dos seus ensinamentos como progresso cultural da humanidade.


“As Três Sereias, constituem o sonho eterno do Paraíso Ressurgido. Quando o mundo soubesse da sua existência, acreditaria, e, acreditando, procurá-las-ia? E quanto tempo demoraria o mundo a encontra-las, se algumas vez as encontrasse?”

Lady M.





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