segunda-feira, 3 de setembro de 2012

[Entrevista Nacional] - Carla Ribeiro



Hoje, deixo-vos aqui a Entrevista nacional com Carla Ribeiro. Obrigada, Carla, pela disponibilidade e prontidão :P
Breve Biografia

Carla Ribeiro nasceu a 20 de Julho de 1986 e é natural de S. Martinho de Mouros, Portugal. É licenciada em Medicina Veterinária e leitora compulsiva, com uma predilecção de sempre pela literatura fantástica. Colabora ocasionalmente em algumas antologias e outras publicações literárias, e com alguns livros publicados em géneros tão diferentes como a poesia e o romance fantástico, sendo os mais recentes Pela Sombra Morrerão (Antagonista Editora) e Senhores da Noite (Fronteira do Caos).



Entrevista 
É um facto que venceste num género difícil de agradar. É, de igual forma, factual que não se consegue agradar a todos. Porquê o Fantástico como registo de eleição?

O fantástico é um dos géneros literários que mais me cativa. Apesar de gostar de escrever em géneros diferentes, muitas das histórias que me surgem no pensamento têm alguma relação com o fantástico. Gosto das possibilidades que me apresenta, responde ao tipo de situações que me interessa desenvolver… mas não é uma escolha feita inteiramente com o lado racional. Quando as ideias surgem, vêm, normalmente, como um momento e um lugar marcantes, de alguma forma. E, partindo desse ponto em que a história começa a crescer, é, muitas vezes, o fantástico que melhor se adapta a essa história que quer ser contada e me falou ao coração.

Em relação à construção das tuas histórias, referiste que, aos 14 anos, começaste a descobrir que “talvez pudesse levar essas ideias um pouco mais a sério”. Como é que isso aconteceu?

Houve uma fase na minha vida em que se tornou imperativo encontrar uma forma de expressão para o que tinha por dentro. Precisava de um refúgio e a verdade é que nunca fui de natureza extrovertida. Foi o início de um ponto de viragem, a altura em que escrever deixou de ser uma experiência muito ocasional e passou a ser em parte vício, em parte necessidade. A fase seguinte surgiu quando comecei a mostrar o resultado dessas longas alturas de escrita. Primeiro a amigos, depois a professores, a seguir a participação em alguns concursos literários… Foi a altura em que comecei a pensar que poderia haver por aí quem gostasse de me ler.

Colaboras no Correio do Fantástico, um espaço dedicado maioritariamente ao género que lhe deu o nome. Podes falar-nos um pouco sobre ele?

Enquanto espaço de divulgação de um género que está entre os meus absolutos favoritos, era inevitável que o Correio do Fantástico me chamasse a atenção. É um género tão vasto e com tantas possibilidades, que a ideia que, por vezes, se passa de que se resume a literatura infanto-juvenil ou essencialmente escapista me parece imensamente redutora. Daí que encontre muito valor neste tipo de espaços e iniciativas de divulgação. O meu contacto com o Correio do Fantástico foi inicialmente enquanto leitora, e aquilo de que mais gostei foi o entusiasmo e a vontade de avançar com ideias e projectos. Depois surgiu o convite para participar no espaço e tive todo o gosto em aceitar - ainda que, por razões de tempo ou de falta de ideias da minha parte, a minha participação tenha vindo a ser bastante mais… discreta… do que deveria. 

Podes dizer-nos como surgiu a possibilidade de contribuir para esse projecto e de que forma influenciou o teu caminho até ao presente?

Já acompanhava o projecto há algum tempo e já tinha enviado alguns textos meus para algumas das iniciativas do Correio do Fantástico. A partir daí, o convite acabou por surgir. Quanto à forma como me influenciou, acho que há duas situações que se destacam. A primeira, desde logo, foi a oportunidade de publicar alguns textos meus em projectos que surgiram ali. A outra foi o contacto com outros leitores e interessados no género que dificilmente teria conhecido de outra forma.
  
O que originou a escrita de “Senhores da Noite”? 

Tal como acontece com muitas das minhas histórias, esta começou com uma ideia e um momento. De onde surgiu exactamente é difícil dizer, mas tudo começou quando um dos acontecimentos iniciais do livro – um dos do passado – me veio a cabeça. E, quando a história quer, a história tem de ser escrita, ou então não me sai da cabeça. A partir desse episódio, comecei a considerar possibilidades e formas de dar continuidade ao enredo – e a história foi surgindo. 

Ainda sobre esta obra, como foi criar personagens com particularidades tão “negras” e mesmo assim fazer o leitor sentir empatia por elas?

Tanto no que escrevo como nos livros que leio, tenho uma tendência para as personagens de natureza nobre (e isto aplica-se mais aos valores que à linhagem). São as figuras com que mais me identifico e aquelas em que me é mais fácil compreender as motivações. Quando estava a escrever este livro, dei por mim a perguntar-me como seria inverter essa tendência e criar uma história em que não há heróis, mas em que os vilões são mais que simplesmente vilões. Em que a crueldade existe e em abundância, mas em que há razões – mesmo que válidas apenas para as personagens – capazes de atenuar o impacto dos actos.

Já recebeste Prémios Literários diversificados. Queres falar-nos um pouco sobre eles?

A participação em concursos literários foi um dos primeiros passos no meu percurso pela escrita – ou pela escrita para lá da gaveta. Mesmo prémios mais pequenos e de âmbito local foram – e continuam a ser – um motivador, porque me dizem que há alguém que reconhece alguma qualidade naquilo que escrevo. Já não participo em tantos concursos como em tempos, mas ainda os vejo como um impulso e um desafio. E isso dá-me algo com que trabalhar, mesmo quando as inseguranças falam mais alto.

Os teus textos são de géneros diversificados. Ao escrever, consegues “desligar-te” de um género para outro ou um influencia o outro? Como consegues abstrair-te ao focar-te num apenas? 

Normalmente, não escrevo a pensar no género a que pertence aquilo em que estou a trabalhar. Tenho a ideia e aquilo que quero fazer dela – e a história flui de acordo com isso. Quando estou concentrada numa história – e tenho sempre mais que uma em curso, mas consigo centrar-me naquela que quero escrever, na altura – são as minhas personagens e o que lhes está a acontecer o que pesa. Tenho géneros preferidos e, por isso, a tendência é para que muitas dessas histórias se enquadrem, de alguma forma, nalgum deles. Mas não é propriamente uma escolha definida de antemão. Quanto à poesia, é um processo tão diferente que dificilmente os outros projectos poderiam interferir.

O que é mais gratificante, para ti, na arte da escrita e ao publicares o que escreves?

Tenho uma relação muito pessoal com as minhas personagens e com as histórias que elas vivem. Quando estou a escrever, é como se a vida deles fosse a minha e eu pudesse viver e sentir com eles cada um dos momentos e emoções que lhes definem o caminho. É um elo quase mágico e algo que, parece-me, desperta o melhor de mim. É o que faz com que, apesar de todas as dificuldades no caminho, eu saiba que nunca poderia desistir… mesmo apesar dos momentos em que parece tentador fazê-lo.
Quanto à publicação, o objectivo nunca foi muito complexo. Queria que essas histórias que são tão especiais para mim fossem lidas e apreciadas. O mais gratificante, aí, é precisamente quando isso acontece. Quando alguém me diz que gostou da história, que simpatizou com uma personagem, que achou um certo momento realmente especial… são pequenas coisas, talvez, mas dizem-me que ainda vale a pena.

Onde encontras inspiração para escrever os teus textos?

Um pouco por toda a parte e nos momentos mais improváveis. Um momento, uma melodia, os mais estranhos dos sonhos e os pesadelos mais rebuscados… praticamente tudo me serve para fazer surgir uma ideia.

Disseste uma vez que a forma de escrever e a altura em que o fazes “variam bastante consoante o estado de espírito”. Já te deparaste com o chamado “bloqueio de escritor”? Como lidas com ele?

Oh, sim… Por todas as razões e mais algumas. Como lido com ele? Confesso que não muito bem. Seja porque a história atingiu um impasse ou por razões que me abalam a motivação, quando os dias se tornam semanas e, mesmo assim, a escrita não avança, a frustração instala-se.  Tenho algumas estratégias para ultrapassar o bloqueio: reler o trabalho que já está feito desperta, por vezes, a ideia que faltava para quebrar o impasse. Ou posso fazer uma pausa no projecto em mãos e trabalhar um pouco num dos outros. Às vezes, resulta, outras vezes não. Nessas alturas, resta-me esperar que os motivos para o bloqueio percam influência.

Para terminar, queres deixar uma mensagem para os nossos leitores e aspirantes a escritores?

Há, nos livros, uma magia especial, uma diversidade tão grande que permite a cada um de nós encontrar as palavras e as histórias que nos falam ao coração. Por isso, a minha mensagem é, simplesmente, esta: leiam, sempre. E, se têm a vontade de escrever e uma história para contar, então vale sempre a pena pôr mãos à obra. Não há caminhos fáceis – ou, se os há, este não é certamente um deles – mas o lado bom do percurso é amplamente compensador.

*

A autora tem um blogue: As Leituras do Corvo, podem visitar aqui.  
Quanto ao blogue do Correio do Fantástico, para os amantes do género (e não só) que ainda não conhecem, fica aqui.

Ivonne

2 comentários:

  1. Parabéns por mais um entrevista, fico contente de divulgarem novos valores nacionais, parabéns Carla por este livro espero que tenhas sucesso

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    1. Obrigada pelo comentário, Dark Tales :P

      O nosso objectivo tem vindo a ser alcançado devagarinho: divulgar novos talentos nacionais!!

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