Hoje, deixo-vos aqui a Entrevista nacional com Carla Ribeiro. Obrigada, Carla, pela disponibilidade e prontidão :P
Breve Biografia
Carla
Ribeiro nasceu a 20 de Julho de 1986 e é natural de S. Martinho de Mouros,
Portugal. É licenciada em Medicina Veterinária e leitora compulsiva, com uma
predilecção de sempre pela literatura fantástica. Colabora ocasionalmente em
algumas antologias e outras publicações literárias, e com alguns livros
publicados em géneros tão diferentes como a poesia e o romance fantástico,
sendo os mais recentes Pela Sombra
Morrerão (Antagonista Editora) e Senhores
da Noite (Fronteira do Caos).
Entrevista
É um facto que venceste num género difícil
de agradar. É, de igual forma, factual que não se consegue agradar a todos. Porquê
o Fantástico como registo de eleição?
O fantástico é um dos géneros literários que
mais me cativa. Apesar de gostar de escrever em géneros diferentes, muitas das
histórias que me surgem no pensamento têm alguma relação com o fantástico.
Gosto das possibilidades que me apresenta, responde ao tipo de situações que me
interessa desenvolver… mas não é uma escolha feita inteiramente com o lado
racional. Quando as ideias surgem, vêm, normalmente, como um momento e um lugar
marcantes, de alguma forma. E, partindo desse ponto em que a história começa a
crescer, é, muitas vezes, o fantástico que melhor se adapta a essa história que
quer ser contada e me falou ao coração.
Em relação à construção das tuas histórias,
referiste que, aos 14 anos, começaste a descobrir que “talvez pudesse levar
essas ideias um pouco mais a sério”. Como é que isso aconteceu?
Houve uma fase na minha vida em que se
tornou imperativo encontrar uma forma de expressão para o que tinha por dentro.
Precisava de um refúgio e a verdade é que nunca fui de natureza extrovertida.
Foi o início de um ponto de viragem, a altura em que escrever deixou de ser uma
experiência muito ocasional e passou a ser em parte vício, em parte
necessidade. A fase seguinte surgiu quando comecei a mostrar o resultado dessas
longas alturas de escrita. Primeiro a amigos, depois a professores, a seguir a
participação em alguns concursos literários… Foi a altura em que comecei a
pensar que poderia haver por aí quem gostasse de me ler.
Colaboras no Correio do Fantástico, um
espaço dedicado maioritariamente ao género que lhe deu o nome. Podes falar-nos um
pouco sobre ele?
Enquanto espaço de divulgação de um género
que está entre os meus absolutos favoritos, era inevitável que o Correio do
Fantástico me chamasse a atenção. É um género tão vasto e com tantas
possibilidades, que a ideia que, por vezes, se passa de que se resume a
literatura infanto-juvenil ou essencialmente escapista me parece imensamente
redutora. Daí que encontre muito valor neste tipo de espaços e iniciativas de
divulgação. O meu contacto com o Correio do Fantástico foi inicialmente enquanto
leitora, e aquilo de que mais gostei foi o entusiasmo e a vontade de avançar
com ideias e projectos. Depois surgiu o convite para participar no espaço e
tive todo o gosto em aceitar - ainda que, por razões de tempo ou de falta de
ideias da minha parte, a minha participação tenha vindo a ser bastante mais…
discreta… do que deveria.
Podes dizer-nos como surgiu a possibilidade
de contribuir para esse projecto e de que forma influenciou o teu caminho até
ao presente?
Já acompanhava o projecto há algum tempo e
já tinha enviado alguns textos meus para algumas das iniciativas do Correio do
Fantástico. A partir daí, o convite acabou por surgir. Quanto à forma como me
influenciou, acho que há duas situações que se destacam. A primeira, desde
logo, foi a oportunidade de publicar alguns textos meus em projectos que
surgiram ali. A outra foi o contacto com outros leitores e interessados no
género que dificilmente teria conhecido de outra forma.
Tal como acontece com muitas das minhas
histórias, esta começou com uma ideia e um momento. De onde surgiu exactamente
é difícil dizer, mas tudo começou quando um dos acontecimentos iniciais do
livro – um dos do passado – me veio a cabeça. E, quando a história quer, a
história tem de ser escrita, ou então não me sai da cabeça. A partir desse
episódio, comecei a considerar possibilidades e formas de dar continuidade ao
enredo – e a história foi surgindo.
Ainda sobre esta obra, como foi criar
personagens com particularidades tão “negras” e mesmo assim fazer o leitor
sentir empatia por elas?
Tanto no que escrevo como nos livros que
leio, tenho uma tendência para as personagens de natureza nobre (e isto aplica-se
mais aos valores que à linhagem). São as figuras com que mais me identifico e
aquelas em que me é mais fácil compreender as motivações. Quando estava a
escrever este livro, dei por mim a perguntar-me como seria inverter essa
tendência e criar uma história em que não há heróis, mas em que os vilões são
mais que simplesmente vilões. Em que a crueldade existe e em abundância, mas em
que há razões – mesmo que válidas apenas para as personagens – capazes de
atenuar o impacto dos actos.
Já recebeste Prémios Literários diversificados.
Queres falar-nos um pouco sobre eles?
A participação em concursos literários foi
um dos primeiros passos no meu percurso pela escrita – ou pela escrita para lá
da gaveta. Mesmo prémios mais pequenos e de âmbito local foram – e continuam a
ser – um motivador, porque me dizem que há alguém que reconhece alguma
qualidade naquilo que escrevo. Já não participo em tantos concursos como em
tempos, mas ainda os vejo como um impulso e um desafio. E isso dá-me algo com
que trabalhar, mesmo quando as inseguranças falam mais alto.
Os teus textos são de géneros
diversificados. Ao escrever, consegues “desligar-te” de um género para outro ou
um influencia o outro? Como consegues abstrair-te ao focar-te num apenas?
Normalmente, não escrevo a pensar no género
a que pertence aquilo em que estou a trabalhar. Tenho a ideia e aquilo que
quero fazer dela – e a história flui de acordo com isso. Quando estou
concentrada numa história – e tenho sempre mais que uma em curso, mas consigo
centrar-me naquela que quero escrever, na altura – são as minhas personagens e
o que lhes está a acontecer o que pesa. Tenho géneros preferidos e, por isso, a
tendência é para que muitas dessas histórias se enquadrem, de alguma forma,
nalgum deles. Mas não é propriamente uma escolha definida de antemão. Quanto à
poesia, é um processo tão diferente que dificilmente os outros projectos
poderiam interferir.
O que é mais gratificante, para ti, na arte
da escrita e ao publicares o que escreves?
Tenho uma relação muito pessoal com as
minhas personagens e com as histórias que elas vivem. Quando estou a escrever,
é como se a vida deles fosse a minha e eu pudesse viver e sentir com eles cada
um dos momentos e emoções que lhes definem o caminho. É um elo quase mágico e
algo que, parece-me, desperta o melhor de mim. É o que faz com que, apesar de
todas as dificuldades no caminho, eu saiba que nunca poderia desistir… mesmo
apesar dos momentos em que parece tentador fazê-lo.
Quanto à publicação, o objectivo nunca foi
muito complexo. Queria que essas histórias que são tão especiais para mim
fossem lidas e apreciadas. O mais gratificante, aí, é precisamente quando isso
acontece. Quando alguém me diz que gostou da história, que simpatizou com uma
personagem, que achou um certo momento realmente especial… são pequenas coisas,
talvez, mas dizem-me que ainda vale a pena.
Onde encontras inspiração para escrever os
teus textos?
Um pouco por toda a parte e nos momentos
mais improváveis. Um momento, uma melodia, os mais estranhos dos sonhos e os
pesadelos mais rebuscados… praticamente tudo me serve para fazer surgir uma
ideia.
Disseste uma vez que a forma de escrever e
a altura em que o fazes “variam bastante consoante o estado de espírito”. Já te
deparaste com o chamado “bloqueio de escritor”? Como lidas com ele?
Oh, sim… Por todas as razões e mais algumas.
Como lido com ele? Confesso que não muito bem. Seja porque a história atingiu
um impasse ou por razões que me abalam a motivação, quando os dias se tornam
semanas e, mesmo assim, a escrita não avança, a frustração instala-se. Tenho algumas estratégias para ultrapassar o
bloqueio: reler o trabalho que já está feito desperta, por vezes, a ideia que
faltava para quebrar o impasse. Ou posso fazer uma pausa no projecto em mãos e
trabalhar um pouco num dos outros. Às vezes, resulta, outras vezes não. Nessas
alturas, resta-me esperar que os motivos para o bloqueio percam influência.
Para terminar, queres deixar uma mensagem
para os nossos leitores e aspirantes a escritores?
Há, nos livros, uma magia especial, uma
diversidade tão grande que permite a cada um de nós encontrar as palavras e as
histórias que nos falam ao coração. Por isso, a minha mensagem é, simplesmente,
esta: leiam, sempre. E, se têm a vontade de escrever e uma história para
contar, então vale sempre a pena pôr mãos à obra. Não há caminhos fáceis – ou,
se os há, este não é certamente um deles – mas o lado bom do percurso é
amplamente compensador.
*
A autora tem um blogue: As Leituras do Corvo, podem visitar aqui.
Quanto ao blogue do Correio do Fantástico, para os amantes do género (e não só) que ainda não conhecem, fica aqui.
Ivonne
Parabéns por mais um entrevista, fico contente de divulgarem novos valores nacionais, parabéns Carla por este livro espero que tenhas sucesso
ResponderEliminarObrigada pelo comentário, Dark Tales :P
EliminarO nosso objectivo tem vindo a ser alcançado devagarinho: divulgar novos talentos nacionais!!