Kate Pearce nasceu em Inglaterra, numa grande família onde todas eram raparigas,
e passou grande parte da sua infância feliz num mundo de sonhos. Sempre lhe
disseram que tinha de «fazer o correto», portanto estudou História e formou-se
com distinção pela University College of Wales. Depois do fim do curso entrou na
vida real e trabalhou em finanças, carreira que não era a melhor opção para uma
futura escritora.
Finalmente, mudou-se para os Estados Unidos, o que lhe
permitiu realizar o seu sonho de escrever um romance. Para além de ser uma
leitora voraz, Kate gosta de fazer caminhadas com a família pelos parques
regionais da Califórnia.
Para mais informações, visite www.katepearce.com [Fonte do texto introdutório: site da Quinta Essência]
Kate Pearce, autora da Série [ Casa do Prazer], é já bem conhecida do público Português, sendo a sua obra editada pela Quinta Essência [Grupo LeYa]. Escreve romances eróticos históricos, e também se dedica à literatura paranormal e contemporânea [não sendo ainda conhecidas do público Português estas duas últimas facetas da obra desta escritora]. Em Português existem já publicados dois livros de Kate Pearce - "Escravos do Amor", e " Escravos da Paixão" - o segundo romance foi a novidade editorial de Setembro da Quinta Essência.
Polémica, com uma escrita bastante ousada, para ser lida sem preconceitos, tivemos a oportunidade de dar a conhecer melhor a autora, extremamente simpática e descontraída, numa entrevista alargada que, acreditamos, irá melhor contextualizar a sua obra.
[ENTREVISTA INTERNACIONAL: KATE PEARCE]
Entrevista conduzida por: Isabel Alexandra Almeida /Os Livros Nossos:
1-
Kate, sempre foi uma leitora ávida, que mais tarde se tornou escritora. Acha
importante para um futuro escritor ler muito? O que de melhor aprende quando
lê?
[Kate Pearce]: Eu penso que aprendemos
como um livro funciona, como usar a linguagem, o ritmo e a fluidez de uma
história. Quanto mais lemos, melhor compreendemos como escrever. Quando comecei
a escrever pela primeira vez, costumava copiar partes do texto que me faziam
vibrar e analisava-as.
2-
Diga-nos os seus autores preferidos.
[K.P.]: É
uma pergunta difícil, porque eu leio muito! Terei de referir Dorothy Dunnett, Rosemary Sutcliff,
Jane Austen, Georgette Heyer, Marian Keyes, Jody Picoult, Susan Howatch, Linda
Howard e Mary Balogh.
3-
Escreve romances eróticos e também fantasia histórica, como a Série dos
Vampiros Tudor, ainda não disponível em Portugal. Quão difícil é para si fazer
a pesquisa? Quanto tempo demora?
[K.P.]: O
período da regência foi por mim estudado na escola, e estou com ele bastante
familiarizada, por isso ocorre-me de forma bastante natural.(Tendo sido nascida
e criada perto de Londres, e estar familiarizada com os locais acerca dos quais
escrevo, também ajuda). Na Universidade também estudei a política da época
Tudor, por isso tenho um bom entendimento de tal matéria também. Eu adoro fazer
pesquisa, por isso, não considero um trabalho, apenas uma base para tornar mais
credíveis as histórias que escrevo.
Também escrevo
romances paranormais e contemporâneos. O mais difícil para mim de captar é a
contemporaneidade Norte Americana. Mesmo após 15 anos aqui eu ainda entendo mal
algumas coisas. J
4-
Na sua opinião, a sua formação académica em História ajuda-a na pesquisa?
[K.P.]:
Completamente. Eu sei como encontrar as coisas rapidamente e, para ser sincera,
a internet tornou isso mil vezes mais fácil.
5-
É Britânica, mas vive actualmente nos Estados Unidos, porque sentiu que seria
mais difícil para si publicar no seu país natal?
[K.P.]: A
Indústria dos romances nos Estados Unidos é enorme e é o género literário que
mais vende. No Reino Unido, o romance é considerado como sendo essencialmente
edição da Mills & Boon [Editora de romances populares no Reino Unido], e
não é considerado como boa literatura, o que penso que é de lamentar. Quando me
mudei para os Estados Unidos e vi os romances nas livrarias, descobri que tinha
encontrado o que queria escrever.
6-
Alguns dos leitores Portugueses da Série [Casa do Prazer] ficaram chocados com
as descrições explícitas. O que a levou a escrever acerca de temas tão
peculiares, como a violação e a homossexualidade?
[K.P.]: Não
me parece que sejam apenas os meus leitores Portugueses a ficar chocados. J Acho que choquei todas as
nações. [Risos] Não sei o que me fez escrever acerca destes temas. Valentim e
Peter apareceram um dia na minha cabeça, e chegaram por inteiro, com toda a sua
história e bagagem emocional. Apenas decidi que teria de ser corajosa [e em
2007, quando estes livros surgiram, foi coragem mesmo] e escrever a história
deles, e tinha de ser escrita.
Eu sempre gostei de pisar
as fronteiras daquilo que é considerado um “romance” e nunca gostei de rótulos,
por isso, escrever acerca destes dois homens que poderiam amar-se, sem olhar ao
género, pareceu-me natural.
Também acho que o
sexo é um assunto tão fascinante, e não se trata apenas da parte física ou da
orientação do sujeito, é também uma questão de poder.
7-
Quando descreve um episódio de natureza sexual, apresente apenas um trabalho de
imaginação, ou as descrições são baseadas na vida privada Britânica do Século
XIX?
[K.P.]:
Bem, acho que as pessoas têm sexo há milhares de anos, e se olharmos para
culturas ancestrais como os Egípcios, os Maias ou os Celtas, podemos ver a arte
e a literatura a representar todos os tipos de posições e combinações sexuais interessantes [Risos].Conjugo
um interesse em pesquisar acerca deste tipo de livros com a minha vívida
imaginação. J
8-
Gostaria de recomendar alguns livro´s que nos possam ajudar a compreender melhor
o contexto histórico Britânico do Século XIX?
[K.P.] Em
relação à componente erótica, podem consultar obras do Capitão Sir Richard
Francis Burton, que foi um arrojado explorador Britânico, e também linguista,
no início do Século XIX, que, nas suas viagens, trouxe os livros das Mil e Uma
Noites e do Kama Sutra, para Inglaterra.
Para a Regência e o
Principe Regente, não ficam mal com o livro de J. B. Priestly “ O Príncipe do
Prazer” .
Também investiguei a
Guerra Peninsular travada entre França e Inglaterra, por toda a Europa,
incluindo Portugal. Os diários de Harry Smith, desse período, são muito
interessantes. Ele casou com uma senhora Espanhola, enquanto esteve lá, e
levou-a para Inglaterra com ele. J Se
quiserem a versão romantizada desta história, experimentem o livro “A noiva
Espanhola” de Georgette Heyer.
9-
O que cria primeiro: enredo ou personagens? Costuma escrever esquemas ou deixa
que a imaginação flua?
[K.P.]: São
sempre as personagens que me surgem primeiro. Há uma longa fila de personagens
na minha cabeça, pacientemente à espera de que escreva sobre elas. Não sou
muito boa a elaborar enredos. Tendo a sentar-me e a escrever, parando por vezes
para pesquisar, enquanto trabalho. Às vezes, quando concebo um livro, não tem
nada a ver com a ideia original que propus ao meu editor.
10-
Gosta de se manter em contacto com os seus leitores e fãs, o que é que eles
mais gostam nos seus romances?
[K.P.]:
Isso depende do leitor. J A
maioria gosta de cenas de sexo, mas também se apaixonam pelas personagens, o
que é muito especial para mim.
11-
Entre a Série Casa do Prazer e as Crónicas dos Vampiros Tudor, quais são os
seus preferidos?
[K.P.]:
Isso é como pedir-me que escolha um filho preferido. J Penso que a Casa do Prazer
vai sempre ser a minha série preferida, porque significou muito para mim ser
capaz de escrever algo tão inovador e subversivo.
12-
O que recomendaria a alguém que queira
tornar-se escritor?
[K.P.]: Ler
muito do seu género literário preferido e escrever muito. Aprenderá muito se
continuar a escrever. Quando nos sentimos suficientemente confiantes para
partilhar o nosso trabalho, encontrar outros escritores que partilhem o nosso
amor por aquilo que escrevemos e aprender com eles através das críticas e da partilha do nosso
trabalho.
13-
Gostaria de deixar uma mensagem para os seus leitores e fãs Portugueses?
[K.P.]:
Apenas dizer que fiquei encantada por saber que tenho leitores em Portugal, que
gostam destes livros, e espero que continuem a gostar deles. Obrigado.
[INTERNATIONAL INTERVIEW WITH KATE PEARCE]
By: Isabel Alexandra Almeida /Our Books blog
English Version
1) Kate, you have always been an avid reader, who became
an author later. Do you find important for a future writer to read a lot? What
are the best things you learn when reading?
[Kate Pearce]: I think you learn how a book ‘works’, how to use
language and the flow and pace of a story. The more you read, the more you
understand how to write. When I first started writing I used to copy out pieces
of text that resonated with me and analyse them.
2) Name your favourite authors.
[K.P.]:That’s a tough question because I read a lot! I’d have
to say, Dorothy Dunnett, Rosemary Sutcliff, Jane Austen, Georgette Heyer,
Marian Keyes, Jodi Picoult, Susan Howatch, Linda Howard and Mary Balogh.
3) You write erotic novels and also historical fantasy
such as the Tudor Vampires Series, not yet available in Portugal. How hard it
is for you to make the research? How long does it take?
[K.P.]: The Regency period is a period I studied in school,
and one that I am quite familiar with, so it comes quite naturally to me.
(Being born and brought up near London and being familiar with the places I
write about also helps). I also studied Tudor politics at university, so I have
a good basic understanding of that, too. I love doing research so I don’t
consider it as work, just as background to make the stories I write more
believable.
I also write paranormal and contemporary novels. The
hardest thing for me to get right is contemporary American. Even after fifteen
years here I still get things wrong, J
4) In your opinion, does your History Degree help you
with the research?
[K.P.]: Absolutely. I know how to find things quickly and, to
be honest, the internet has made that a thousand times easier!
5) You are British, but you are currently living in the
U.S.A.. Why do you feel that it would be harder for you to publish in your home
country?
[K.P.]:The romance industry in the USA is huge and is the biggest selling genre of
them all. In the UK, romance is considered to be mainly Mills & Boon and is
not considered to be good literature, which I think is a shame. When I moved
over to the U.S. and discovered the romances in the bookstores, I knew I had
found what I wanted to write. J
6) Some of your Portuguese readers of The House of
Pleasure Series were shocked by the explicit descriptions. What drove you to
write about such peculiar themes such as rape and homosexuality?
[K.P.]:I don’t think it’s just my Portuguese readers who were
shocked. J I think I’ve
shocked every nation. LOL I don’t know what made me write about these subjects.
Valentin and Peter just turned up in my head one day, and they came complete
with all their backstory and emotional baggage. I just decided I had to be
brave (and back in 2007 when these books came out, it was brave) and write
their story as it was meant to be written.
I’ve always liked pushing the boundaries of what is
considered a ‘romance’ and I’ve never liked labels, so writing about these men
who could love each other regardless of their gender, just seemed natural to
me.
I also think that sex is such a fascinating subject
and it isn’t just about the physical or the person’s orientation; it’s also
about power.
7) When you describe an episode of sexual nature, do you
present just a work of imagination, or are the descriptions based on the 19th
century British private Life?
[K.P.]:Well, I think people have been having sex for
thousands of years, and if you look at ancient cultures such as the Egyptians,
or the Mayans or the Celts, you can see art and literature representing all
kinds of interesting sexual positions and combinations, LOL. I combine an
interest in research into these kind of books and my very vivid imagination. J
8) Would you like to recommend some books that could help
us understand better the British historical context in the 19th
century?
[K.P.]:For the erotic side of things look up Captain Sir
Richard Francis Burton who was a dashing British explorer and linguist in the
early nineteenth century who on his travels brought both the Tales of the
Arabian Nights and the Karma Sutra back to England.
For the Regency and the Prince Regent, you can’t go
wrong with the standard J.B. Priestly’s book ‘The Prince of Pleasure’.
I’ve also researched the Peninsula War fought between
France and England all over Europe, including in Portugal. The journals of
Harry Smith from that time period are very interesting. He married a Spanish
lady while he was there and brought her back to England with him. J If you want the romance version of that, try
Georgette Heyer’s ‘The Spanish Bride.’
9) What do you create in the first place: plot or
characters? Do you usually write outlines or do you allow the imagination just
to flow?
[K.P.]:It’s always the characters that come first for me.
There’s a long line of them queued up in my head, patiently waiting their turn
to be written about. I’m not a great plotter either. I tend to just sit down
and write, stopping to research something as I go. Sometimes, when I turn a
book in it is nothing like the original idea I proposed to my editor.
10) You like to keep in touch with your readers and fans,
what do they usually like most about your novels?
[K.P.]:It depends on the reader. J Most of them like the sex scenes, but they also fall
in love with the characters, which is very special for me.
11) Between the House of Pleasures and The Tudor Vampire
Chronicles which one is your favourite?
[K.P.]:That’s like asking me to choose a favourite child! J I think the House of Pleasure is always going to be
my favourite series because it meant so much to me to be able to write
something so ground-breaking and subversive.
12) What would you recommend to someone who wants to
become a writer?
[K.P.]:Read a lot in your favourite genre and write a lot.
You’ll learn so much if you just keep writing. When you feel confident enough
to share your work, find other writers who share your love of what you write
and learn from them by critiquing and sharing your work.
13) Would you like to leave a message to your Portuguese
readers and fans?
[K.P.]:Just to say that I’ve been so delighted to hear that
there are readers in Portugal enjoying these books, and
that I hope you continue to enjoy them. Thank you.
______________________________
REVIEWS:
Agradecimentos:
Este trabalho contou com o apoio da editora
Quinta Essência, que disponibilizou para leitura e review o mais recente livro da autora. Agradecemos ainda a disponibilidade e simpatia de
kate Pearce, e aqui fica um público agradecimento a
Ana Ferreira, autora do blog
Illusionary Pleasure, que reviu e aperfeiçoou as questões por mim originalmente formuladas em Língua Inglesa.