Autora:
Josephine Cox
Título
da Edição Portuguesa: “ A Vida que nunca te contei”
Título
Original: “Songbird”
Editora:
Publicações Europa-América
Colecção:
Contemporânea
Data
da 1ª Edição: Agosto de 2009
Páginas: 320
Sinopse:
Na cidade de Bedford, quatro
estudantes ouvem a voz insistente de uma mulher a cantar. A bela melodia é
entoada pela vizinha — uma pessoa solitária, que nunca abre a porta a ninguém,
nem sai de casa em pleno dia.
Não podiam saber que a
mulher na casa ao lado, Madeleine Delaney, é perseguida por uma recordação
antiga que durante vinte anos controlou a sua pobre existência…
A voz angélica de Madeleine
e a sua beleza impressionante atraem os corações de muitos. Mas ela só está
interessada no proprietário do clube, Steve Drayton, um homem extremamente
atraente mas assustador.
Então, uma noite, ela
presencia um crime horrível e a sua vida muda irrevogavelmente para sempre. A
gentileza e a amizade de uma rapariga — Ellen — salva Madeleine da destruição
total. Mas para sobreviverem têm de fugir de Londres, deixando para trás
aqueles que amam, e o perigo segue-as para onde quer que vão...
Crítica/Opinião
Por: Isabel Alexandra
Almeida/Os Livros Nossos
O romance “A vida que nunca te contei” da autora Britânica Josephine Cox, com
a chancela de Publicações Europa-América, traz-nos de volta a um género por
vezes esquecido da literatura, que poderemos livremente apelidar de romance
dramático, que poderá ser também caracterizado como literatura feminina.
Trata-se de uma obra escrita de forma
exemplar, com uma linguagem fluída mas também algo elaborada (sem que tal
prejudique a inteligibilidade da obra e antes afastando a mesma da
categorização, tantas vezes perjorativa, de literatura light). A autora
transporta-nos numa viagem que, temporalmente, decorre entre 1978 e 1996, tendo
por cenário cidades Britânicas como Bedford, Londres, Blackpool, Bedfordshire e
novamente Bedford. A obra apresenta-se estruturalmente dividida em cinco
partes, num total de 25 capítulos não demasiado extensos ( o que também
facilita a leitura), sendo a narrativa feita de uma forma circular, na medida
em que a acção é narrada no presente (Bedford em 1996), seguindo-se três partes
que correspondem a analepses, e terminando no mesmo local em que tivera início,
de forma surpreendente.
A personagem Central da obra é Madeleine
Delaney, outrora cantora conhecida entre o público da Noite Londrina, tendo
sido cantora residente no Clube Pink Lady, propriedade do sedutor, violento e
inescrupuloso Steve Drayton, com o qual manteve uma relação destrutiva, e cujo
medo persistirá ao longo de vinte anos como um terrível fantasma do passado que
persiste em atormentar Maddy, e vedar-lhe o acesso a uma vida tranquila, livre e plena, pois que o confronto final com
Steve Drayton, em Londres ficará sempre gravado na mente de Maddy, que não
esquece a ameaça a si dirigida pelo homem que tanto amou “ - A tua carta está marcada sua cabra. Não deixes de olhar por cima do
ombro. Dia e Noite, onde quer que tentes esconder-te, eu encontrar-te-ei.”
É também ainda em Londres, enquanto cantora
no Pink Lady, que conhece a sua
melhor amiga e protectora Alice Mulligan, o dedicado Jack e o prestável
Raymond, amigos dos quais se verá tragicamente separada.
Em Blackpool, onde se refugia na companhia
de Ellen Drew, que conhece acidentalmente em Londres em circunstâncias gravosas
para ambas, conhecerá momentos temperados com bastante ternura e quase encontra
uma nova família e Ellen e no seu simpático avô Bob (a personagem mais simpática,
carinhosa, divertida e positiva da história), mas o destino força-a a fugir
novamente, e em Bedfordshire encontrará Brad Fielding, um sofredor e simpático
Veterinário, viúvo e com um filho ainda menor, também ele uma vítima das
circunstâncias da vida, mas um lutador incansável. Mais uma vez, não o destino,
mas a traição de alguém que julgara ser-lhe leal, separam Maddy de um local seguro e quase põem
fim à sua vida.
Em 1996, encontramos novamente a personagem,
já com cinquenta anos, descuidada e perturbada mentalmente (depressiva,
paranoide, apática e isolada socialmente), será ajudada por um casal de jovens
estudantes universitários, seus vizinhos que a socorrem de um problema de
saúde. E sabemos então o desenlace final da história desta personagem dramática,
com elevada carga psicológica, e que nos faz pensar na gravidade da violência
exercida contra tantas e tantas mulheres que não vislumbram inicialmente o
perigo que correm em relacionamentos amorosos que estão condenados à partida,
como se lhes escapasse toda a lógica e racionalidade para julgar o carácter dos
agressores, que muitas vezes as manipulam.
As personagens podem facilmente
distinguir-se entre bons e vilões, a narrativa é rica em detalhes que permitem
caracterizar diversos espaços sociais, desde a vida nocturna Londrina em finais
dos anos sessenta (em moldes que, se abstrairmos da época e espaço, nos chegam
a fazer lembrar algumas descrições próprias de policiais noir povoados por Gangsters ao estilo de Al Capone), passando pela
vida modesta da classe média em Bedford, ou o ambiente agradável e sereno de
uma pequena povoação balnear Britânica (Blackpool) que nos evoca por vezes, as
férias estivais, deixando-nos curiosos para conhecer directamente as paisagens,
onde acabamos por simpatizar até com as vizinhas coscuvilheiras da povoação, e
tomamos também contacto com a vida numa típica quinta Britânica (em
Bedfordshire).
Podemos encontrar descrições abundantes e
claras dos locais onde decorre a acção, as personagens vão-se dando a conhecer,
nos seus vícios e virtudes, forças e fraquezas, quer pela caracterização do
narrador quer pelos seus diálogos e interacções diversificadas.
Denotou-se alguma diferença no ritmo
narrativo nos quatro primeiros capítulos da obra, sendo que, daí em diante, o
ritmo vai gradualmente acelerando, apenas nos pareceu menos necessária à
construção da narrativa a descrição do ambiente entre os estudantes
universitários vizinhos de Madeleine no início da obra, se bem que, na parte
final, acabamos por entender melhor a pertinência de tal menção. O romance é
pautado por um permanente clima de tensão e suspense que incentiva o leitor a
avançar na sua leitura, e inevitavelmente, a questionar-se sobre se, em algum
momento, Maddy encontrará a paz e a felicidade tão merecidas e desejadas, bem
como o reencontro com algumas das pessoas mais importantes da sua vida, em
termos positivos.
De um modo geral, podemos considerar que a
narrativa é fechada ( com conflito, climax e desenlace) , mas a nosso ver,
existem alguns pormenores da história que bem poderiam dar lugar a um novo
livro, e que, em nossa opinião, não foram totalmente explorados pela autora.
Em suma, uma obra de elevada qualidade
literária, que prende os leitores do início ao fim, apenas com a ressalva do
ritmo dos quatro primeiros capítulos, com descrições de alguma violência, uma
forte carga psicológica, e a levar a reflectir, por exemplo, sobre valores como
a amizade, a lealdade (até onde vai a nossa lealdade e amizade?), e acaba por
nos transmitir uma salutar mensagem de esperança perante muitas das
adversidades da vida. Gostámos e recomendamos a leitura !