Bom dia (ou boa tarde), caros seguidores :DD
Hoje deixo-vos uma entrevista que adorei fazer e que também estava guardada no baú há algum tempo! A entrevistada é nada mais, nada menos do que Carla M. Soares, autora de Alma Rebelde, A Grande Mão (ainda não foi publicado e é anterior ao primeiro), A Chama ao Vento (ainda em análise pela PE).
Convido-vos também a visitarem o blogue da autora, MonsterBlues,
aqui.
Obrigada Carla pela simpatia e prontidão com que te disponibilizaste a ceder-nos esta entrevista!!
Ora leiam :D
Ivonne Zuzarte (aka Ray*)
Entrevista
O
teu primeiro romance publicado foi um romance de Época. É um género que requer
muitas horas de pesquisa e revisão. Porquê este género tão pouco visto em
Portugal?
Na verdade, não há um motivo. Não
pensei “agora apetece-me escrever um romance de Época”. Tudo começou com uma
carta, uma das que Ester escreve à prima. Tinha lido algures um artigo que
falava da comunicação e lembrei-me de que, noutros tempos, era com cartas que
se comunicava e que levava imenso tempo. Escrevi uma dessas missivas, pensando
no tom e na forma de pensar e redigir de outrora, e as personagens e a
narrativa foi surgindo e desenvolveu-se naturalmente. Mudou muito conforme a
fui escrevendo! Mas atenção, costumo sempre defender que o Alma Rebelde é, de facto, um romance de Época, ou seja, inserido
numa época que não é a a contemporânea, mas não é um romance histórico. Há vários autores desse tipo
de romance bastante conceituados e com qualidade na nossa praça. O Alma está integrado historicamente,
espero que bem, mas o facto de assumir uma perspectiva intimista, de uma
personagem com preocupações específicas, não convida a, por exemplo, um
enquadamento político ou económico detalhado. Não foi a intenção. Claro que a
contextualização exige pesquisa, e tentei ser cuidadosa na verificação dos
factos, para evitar o erro, mas houve um pouco mais de flexibilidade.
Disseste
uma vez que a escrita surgiu na tua vida depois dos 30 anos, em que lias muita
fantasia. Consegues explicar-nos como surgiu ou simplesmente aconteceu?
Não comecei tão cedo como outros
autores, não. Em (muito) jovem escrevi uns poemas, uma ou outro conto de
péssima qualidade, mas deixei de fazê-lo na faculdade e durante muito tempo não
senti nenhuma predisposição para a escrita. Sempre li muito, claro. Li os
clássicos e outros, portugueses e estrangeiros, e estudei literatura. Mas não
escrevia, nem me apetecia escrever. A certa altura descobri a fantasia e li
bastante do género, Tolkien, Marillier, Zimmer-Bradley, Ursula LeGuin, Anne
Bishop, muitos outros. Surgiu-me uma ideia e pus mãos ao trabalho, curiosa para
descobrir se conseguia seguir com ela até ao fim. E levei. Tem umas 300 páginas, chama-se A Senhora do Rio e gosto muito dele. Desde
então não sei passar sem escrever!
Terminaste
A Grande Mão há pouco tempo e tens
outro original, de título provisório A
Chama ao Vento, a ser analisado pela PE. Tens mais algum trunfo na manga,
para além dos que tens guardados, do qual nos possas falar um bocadinho?
Ao contrário, A Grande Mão é o mais antigo dos três livros, já tem uns cinco ou
seis anos. Foi o segundo que escrevi. A PE não se interessou pelo género, muito
diferente do Alma Rebelde (é
aventura/fantasia), e portanto é meu para publicar como quiser. Ainda não sei
se farei alguma coisa com ele, vai depender das opiniões. Não vou insistir se
não tiver qualidade! A Chama ao Vento
é um nome provisório, e não há garantia nenhuma de que a PE venha a publicá-lo,
ou com esse título. Tenho outras coisas de fantasia / fantástico que nunca verão
a luz do dia (aqui estou a rir-me de mim própria) a não ser nas casas dos
amigos, e outras que um dia talvez sigam o caminho d’A Grande Mão. E estou a meio de outra história de época, no pós-Ultimato
agitado e com uma crise tão grave como a actual, com uma jovem viscondessa muito
diferente da Joana, um irmão republicano, um duque e um cavalheiro inglês. Vamos
ver o que lhes sucede.
O
teu blogue monster blues surgiu há mais
de dois anos e meio. Pelo menos, o primeiro post data de 26 de Março de 2010, o
qual terminas a dizer “Há mesmo é um monstro na imaginação.”. Como tiveste
a ideia de iniciar um blogue?
Olha, não me lembrava dessa frase, mas
gostava dela, se a lesse noutro lado! No início não tinha ideia nenhuma do que
era ter um blogue, e nem me lembro porque decidi ter um. Escrevia umas coisas,
sem nenhuma orientação específica. Entre Janeiro e Agosto de 2011 até esteve
parado. Só no verão de 2011 é que me apercebi de que muitos blogues falavam
sobre literatura, tinham seguidores, faziam passatempos, etc. Achei que, para
quem lê tanto e escreve, era o caminho lógico e o que me agradava. Mas não
tenho parcerias, nem passatempos - o único que fiz foi com o meu próprio livro,
quando saiu - nem rúbricas especiais. Escrevo o que me apetece, opiniões, uns textos,
de vez em quando um desbafo. É meu (estou a sorrir).
Com
que vantagens e desvantagens te tens deparado por ter um blogue?
Há autores que têm blogues
relacionados com os seus livros, mas o meu não é. Falo neles de vez em quando,
coligi as opiniões que foram saindo nos blogues sobre o Alma, mas nem estão actualizadas. Talvez um ou outro leitor se
tenha apercebido de que o livro existe através do blogue, não sei. Claro que
agora utilizei-o para permitir a beta-reading
d’A Grande Mão, mas não é um livro “publicado”. Enfim. Um blogue dá trabalho,
mesmo sem parcerias, mas muito prazer também. Organizo as minhas ideias quanto
aos livros, sou obrigada a reflectir nas razões porque gosto ou não deles, e a usar
com cuidado as palavras quando não gosto - embora não passem de opiniões -
porque acho que todo o esforço de escrita merece respeito. Opinar tem um
reverso: por vezes dou por mim a ler e a pensar no que direi, o que por vezes
rouba um pouco da alegria de simplesmente ler.
És
professora e estás a fazer o doutoramento no Instituto de História da Arte. De
que forma organizas o teu tempo para conseguires conciliar as aulas e tudo o
que isso acarreta, a leitura, a escrita, ter tempo para a família e, de igual
forma, para ti própria?
Sempre achei que as minhas horas se
multiplicavam conforme precisava delas. Até aqui, cheguei a tudo, e nunca me
senti excessivamente sobrecarregada. Uma verdadeira super-mulher, eheheh! Este
ano, pela primeira vez, tenho dúvidas sérias de que consiga esticá-las o
suficiente, vai ser preciso um milagre. O que vai ficar a perder? Provavelmente
aquilo que me exige uma concentração maior durante horas seguidas, o
doutoramento. Consegui concluir com sucesso os dois anos de curriculares, são
dez seminários com os respectivos ensaios, mas como optei por sair da box - sou de Letras - o trabalho avança
mais devagar. Com nove turmas e tudo o mais que faz parte da minha vida e é
importante, não estou certa de me sobrar o necessário para escrever uma tese
adequada sobre o fantástico na pintura portuguesa contemporânea. Acaba-se a
super-mulher, começa a super-dor-de-cabeça.
Tens
alguma rotina de escrita (e reescrita) da qual nos possas falar?
Com tanto trabalho, é difícil manter
uma rotina. Tento escrever um pouco todos os dias, mas com frequência o tempo
que tenho reduz-se a algumas horas aos fins de semana, de manhã. Escrevo muito
melhor sozinha com o meu netbook numa
mesa de café, produzo muito assim. Em geral tenho uma ideia da história, que
não é rígida e muitas vezes acaba mesmo por alterar-se conforme as personagens
“crescem” e ganham densidade. Por vezes dou por mim a pensar que a minha
personagem jamais faria certa coisa que tinha planeada para ela, ou que faz
muito mais sentido que a narrativa siga um caminho diferente. E sigo-o, vou
atrás das personagens. Costumo escrever, escrever, e depois revejo. Por vezes
paro e estou algum tempo só a rever e a reescrever, antes de continuar. Reescrevo
muito. Corto partes, mudo diálogos, introduzo novos capítulos pelo meio, se
fizerem falta à intriga ou às personagens... é um processo muito flexível.
Consegues
descrever-nos o apoio que recebeste da editora, da família, dos teus alunos,
dos amigos/colegas…?
Esta é fácil: tive muito apoio de todo
o lado. Os alunos, em particular, foram muito expontâneos e, a partir do
momento em que souberam que ia publicar um livro, de quando em quando faziam
perguntas, queriam saber. Tive uma turma de 9º ano, minha há três anos, que
desatou a aplaudir no corredor no dia em que o livro saiu... foi embaraçoso mas
muito recompensador. E tive vários alunos no lançamento, o que me deixou muito
contente. Claro que a família ficou orgulhosa, em especial... adivinhem, pois
claro, a minha mãe! Tanto faz que tenhas 4 anos como 40, mãe é mãe. Mas o meu
marido e filhos também me mimaram muito. A editora portou-se sempre bem, o
processo foi longo mas a comunicação a melhor possível, as respostas aos emails
quase imediatas, encontramo-nos algumas vezes, e tentaram, creio, colocar o
livro o melhor possível. Promover um
livro de uma desconhecida não é fácil, mas obtiveram boa exposição nas
livrarias e algumas pequenas entrevistas na rádio... O mais dificil tem sido
esperar pelas opiniões sobre o livro, e os altos e baixos, e as dúvidas sobre o
trabalho que se fez e se virá a ter outro.
Com
a vida agitada que tens tido ultimamente, consegues falar-nos de um episódio
engraçado ou especialmente gratificante que tenha ocorrido que envolva Alma Rebelde?
Sabem o que se costuma dizer acerca
dos casamentos, que “boda molhada é boda abençoada”? Pois é. O lançamento foi
planeado para o dia 25 de Abril, uma data adequadíssima para alguma rebelião, na
Feira do Livro, AO AR LIVRE... e não é que depois de tanto tanto planeamento
para que tudo corresse o melhor possível, chovia a cântaros? Não falo de uma
chovinha molha-parvos, era um verdadeiro dilúvio bíblico! Mesmo assim, foi
preciso reorganizar a tenda para abrigar quem compareceu, e não coube toda a
gente debaixo dela! Tiveram que arrastar os chapéus de sol e havia gente de
guarda chuva, todos molhados como pintos. Até havia um funcionário da PE a
levantar uma parte da tenda de vez em quando, para escorrer a água e evitar que
caísse tudo na cabeça dos convidados. Ao mesmo tempo foi gratificante, porque a
maior parte das pessoas não deixou de aparecer!
Para
terminar, Carla, queres deixar uma mensagem para os leitores e aspirantes a
leitores?
Que leiam. Leiam de tudo, aquilo de
que mais gostam e coisas fora da sua zona de conforto, clássicos, romances de
cordel, leituras simples, complexas, BD, revistas, jornais. Ler exercita o
cérebro, mantém-nos vivos e faz-nos mais inteligentes. Que formem e valorizem
as suas opiniões pessoais sobre os livros, mas principalmente que tirem da
leitura muito prazer! Muito
obrigada pela tua entrevista, boa sorte para o blogue e boas leituras!
Obrigada nós, Carla!
Boa sorte com os dois originais que já tens prontos para publicar. Boa sorte com o doutoramento. Boa sorte com o Blogue e com a vida de "super-mulher" :D
***
Nota: A capa de A Grande Mão não é a definitiva. Até ao momento, foram disponibilizadas 3 pela autora, aqui e aqui.