domingo, 29 de julho de 2012

[Opinião] - A Devota, de Ricardo Tomaz Alves





1ª Edição: Novembro 2011
Editor: Alfarroba
Colecção: Romance
PVP: 12,90€
ISBN: 978-989-8455-24-6
Páginas: 186
 
Texto/Opinião por: Isabel Alexandra Almeida/Os Livros Nossos
 
 O romance “A Devota”, do jovem autor Ricardo Tomaz Alves, surpreendeu-nos pela positiva, sendo, mais uma vez, uma prova de que em Portugal existem bons escritores, com a mais valia de ser usada a narrativa para dar a conhecer realidades e locais tão Portugueses.

   A Devota conta-nos parte da história de vida de Sara, uma jovem criada no seio de uma família Católica e bastante conservadora, mas que, como todas as famílias, guarda alguns segredos que irão ser descobertos pela jovem, da maneira menos desejável e mais dolorosa, sendo uma marca que terá repercussões no futuro desta personagem.

  Sara, após a morte do pai, irá experimentar a vivência num colégio de orientação Católica, bastante conservador e repressivo, um mundo onde convivem o bem e o mal, e onde irá descobrir a melhor amiga, o amor da sua vida, pessoas que verdadeiramente a estimam e admiram, mas também o reverso da medalha das relações humanas e institucionais, alguns inimigos, com destaque para as vilãs Rute Oliveira e Irmã Joana.

   A narrativa prima pela originalidade, e decorre a bom ritmo, sendo de fácil leitura e mostrando-se com um estilo de escrita simples e acessível, mas em simultâneo, bastante cuidado. E é bem mais do que um vulgar e simples romance, já que desperta nos leitores mais atentos algumas reflexões de natureza filosófica e até religiosa, bem como acerca do carácter e formação de personalidade dos seres humanos, considerando-se a multiplicidade de factores que condicionam tais factos (sejam eles, a família e o tipo de valores e formação ali transmitidos, o ambiente do local onde se estuda e a orientação da escola ou colégio, a maior ou menor predisposição para partir à descoberta de novos horizontes de conhecimento, e a conciliação mais ou menos correcta, dos velhos com novos valores e objectivos a alcançar num mesmo percurso de vida).

   E mesmo os leitores mais românticos não vão ficar desapontados ao acompanhar a evolução da belíssima história de amor que irá ser vivida entre Sara e Tomás.

   Apreciei, em especial, os percursos das personagens pela maravilhosa e mística Vila de Sintra, e o ambiente vivido na “Casa”, onde se privilegia o conhecimento e a cultura num espaço de enriquecimento e liberdade de expressão, onde convivem espíritos que poderemos classificar de especiais e livres (ou que aprendem a sê-lo).

  E quase me atrevo a desejar que seria tão bom que muitos dos nossos jovens, da actual geração, pudessem frequentar um local onde lhes dessem a conhecer os grandes clássicos da literatura e também os autores contemporâneos, numa sociedade de consumo onde os valores não existem (salvo honrosas e cada vez mais raras excepções), e onde a cultura e a leitura são vistas como algo “assustador”, “fastidioso” e mesmo “desnecessário”, porque é tão mais fácil carregar num botão e ver um filme (do que ler um livro), ou pesquisar na internet (nem sempre com a sensibilidade para distinguir as fontes fidedignas das que não o são).

Perdoar-me-ão o desabafo, mas muitos dos nossos jovens das mais recentes gerações da aldeia global precisavam de descobrir a sua “Casa” e o prazer em alargar os seus conhecimentos.

  Obviamente que este meu desabafo não é “inocente” pois que para melhor o entenderem, será vivamente aconselhável a leitura de “ A Devota”.


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