Após a leitura
do romance Percepção – Uma estranha realidade de Sara Farinha, publicada pela Alfarroba Edições, surgiu a oportunidade de
realizar esta entrevista . Agradecemos a disponibilidade e simpatia
da autora.
Segue-se então a entrevista conduzida por Ivonne Zuzarte.
Novo formato, publicado a 8 de Agosto de 2012.
(Foto retirada do blogue da Autora)
1. É uma pergunta banal e muito recorrida, mas
introdutória e necessária para que te possamos conhecer um pouco melhor. Fala-nos
um pouco sobre de ti, Sara.
Sou uma lisboeta que
adora escrever, ler, fotografar, viajar, música, cinema e conviver com os
amigos. Licenciei-me em Sociologia do Trabalho desempenhando diversas funções
em contexto empresarial e como formadora de adultos.
Educação, formação e
emprego deram-me as ferramentas para o estudo dos valores humanos e ajudaram a
perspectivar parte da natureza social e individual. Foram estas experiências que
alimentaram a minha natureza inquisitiva e ajudaram a tornar as letras na minha
forma de expressão pessoal.
Administradora
do blogue http://sarinhafarinha.wordpress.com/ desde 2007, este tem sido a minha plataforma
de eleição como autora, especialmente após a publicação do meu primeiro livro
‘Percepção’, no final de 2011.
2. Que características te definiram e definem enquanto
pessoa e escritora? E o teu romance, “Percepção”?
Pessoa e escritora são indissociáveis.
Enquanto pessoa que escreve posso afirmar que sou persistente, inquisitiva e reflicto
bastante sobre aquilo que me rodeia. Odeio falhar mas gosto de aprender com os
erros. Adoro criar algo e sentir que o que criei deixou de ser meu e passou a
ser de quem lê.
Definir ‘Percepção’ é honrar
contrastes. É falar de ciência e de psicologia, de racionalidade e de
sentimentos, das dicotomias humanas que ilustram comportamentos. É uma história
sobre a influência dos sentimentos, elevados ao expoente máximo, na racionalidade
humana.
3. Quando ainda estavas a escrever “Percepção” e sendo
este um romance virado para o interior da existência e o medo que a acompanha
(com ou sem dons), que sentimentos e emoções te despoletaram a sua escrita?
‘Percepção’ surgiu num momento muito
complicado da minha vida profissional. Apesar da ideia ter amadurecido ao longo
de alguns anos, a sua execução foi ininterrupta, e surgiu como um alívio às
pressões do dia-a-dia. Escrever ‘Percepção’ foi para mim sinónimo de alívio, de
esperança e de recusa de passividade. Esta obra será sempre um símbolo de uma
luta que venci.
4. Quanto tempo levou a ser escrito o romance
“Percepção”?
Sensivelmente um ano de trabalho num
primeiro rascunho e outro ano até à versão final.
5. Pelo que temos lido, iniciaste-te na blogosfera há cerca
de quatro anos. Como surgiu essa ideia e como tem sido a experiência?
O blogue surgiu porque, no domínio das
letras, adoro experimentar coisas novas. Inicialmente era apenas um local de
partilha de interesses e gostos pessoais, com o tempo transformou-se num
projecto autónomo do qual eu sinto bastante orgulho.
Escrever foi, é e será sempre algo que
faz parte de mim. É uma actividade cujo objectivo máximo é social e acredito
que escrevo para mim mas, acima de tudo, escrevo para os outros. Um blogue permite
a exposição e a interacção necessárias a qualquer autor, proporciona a
definição de objectivos concretos e a responsabilidade pelo seu cumprimento.
Os últimos três anos têm testemunhado
um aumento de leitores no meu espaço virtual e, por isso, sou grata. Os meus
leitores são os melhores e eu espero continuar a progredir para lhes
proporcionar bons momentos de leitura.
6. Vimos no teu blogue que adoravas viajar pelo mundo e
que és Socióloga. De que forma esse desejo e o teu curso influenciaram a
escrita de “Percepção”?
‘Percepção’ foi largamente
influenciada por ambas. A Sociologia como estudo do comportamento humano, em
função do meio e da interligação dos indivíduos em sociedade, orientou
processos mentais e pesquisa, ajudando a construir esta história.
Conhecer outras realidades sociais é o
princípio da Sociologia, assim como dos viajantes. As várias viagens a Londres,
uma cidade que eu adoro, proporcionaram o cenário ideal para esta história.
7. O que significa a escrita para ti?
É como beber água ou alimentar-me, faz
parte do meu ritmo diário e da minha saúde. Não consigo imaginar um mundo onde
não me fosse permitido escrever.
8. Que reacções tens tido em relação à tua escrita e ao
teu romance?
Procuro estar atenta
às opiniões e colocá-las em perspectiva. Todas elas são uma lição sobre algo e
devem ser usadas de forma construtiva.
9. O que achas da valorização das obras portuguesas,
recentes e mais antigas, no mercado editorial geral (nacional e internacional)?
E por parte dos próprios leitores portugueses?
Hoje passei por uma livraria,
pertencente a uma das maiores cadeias em Portugal, e constatei que a estante
onde todos os meses encontro literatura fantástica traduzida dividia agora o
espaço com um número simpático de autores portugueses. Pelo menos três das oito
prateleiras exibiam vários exemplares de ficção especulativa portuguesa o que,
pode não parecer muito, mas garanto-vos que é o suficiente para me permitir
afirmar que o mercado está a mudar.
Obras portuguesas, antigas e recentes,
ocupam agora lugares de destaque nos escaparates e isso deixa-me
particularmente orgulhosa como escritora e, sobretudo, como leitora.
Posso afirmar que os leitores
portugueses têm sido os impulsionadores dessa mudança. As redes sociais vieram
facilitar a comunicação entre as partes (leitores, autores, editoras e
livrarias), tornando possível divulgar obras de qualidade num circuito que não
é facilmente manipulável.
10. Tens algum projecto em mãos, de momento? E futuros?
Se sim, podes levantar um bocadinho a ponta do véu?
Tenho vindo a explorar o formato de
Conto num desafio literário pessoal chamado 12 Meses/12 Contos. O texto deste
mês será submetido num concurso internacional promovido por uma editora
brasileira, mas podem ir acompanhando todos os desenvolvimentos no blogue http://sarinhafarinha.wordpress.com/.
Podem acompanhar
alguns dos meus escritos no blogue ‘Fantasy & Co’ http://fantasy-and-co.blogspot.pt/, um projecto em que participo ao lado de alguns
colegas escritores portugueses que pretende divulgar a Literatura Fantástica
Portuguesa.
Quanto a obras de
maior dimensão, fiz uma pausa no rascunho do meu terceiro livro, ao qual
pretendo voltar assim que resolva algumas questões temáticas.
11. E, por fim, há alguma mensagem que gostasses de
deixar aos nossos leitores ou aspirantes a escritores?
Continuem a ler (e a escrever, se for
o caso), um pouco de tudo, em qualquer língua e em todos os formatos. E nunca
acreditem que a vossa opinião pessoal não tem peso porque, é ela que guia a vossa
vontade, que vos impele a agir e, consequentemente, é ela que muda o mundo.
Quero também agradecer ao blogue ‘Os
Livros Nossos’ pela oportunidade de responder a estas questões e, em especial,
à Ivonne Zuzarte pela excelente crítica e pela sua simpatia.