quarta-feira, 7 de agosto de 2013

[Secção Criminal] O Estrangulador de Cater Street, de Anne Perry [ASA]


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Título: O Estrangulador de Cater Street

Autor: Anne Perry

Editora: Asa

Edição: 2013

Páginas: 336



Crítica por Cláudia Lé para o Blog Os Livros Nossos


   Quando a Isabel Alexandra Almeida me perguntou se queria fazer a opinião deste livro, li o título e automaticamente disse que sim no entanto, quando li a sinopse e me apercebi que era um livro de época fiquei com um «pé atrás» mas como já tinha dito que sim e não gosto de ir contra o que digo inicialmente cá o esperei… pior ainda quando na contra capa me dou conta que foi escrito em 1979… uiiiiii pensei, não vou de certo gostar nada do tipo de escrita, será densa, pesada, enfadonha e dada a imensas descrições pomposas… opinião final: A SURPRESA DO ANO!!!

   Adorei o livro, adorei o enredo, adorei a escrita. Se houver continuidade vou querer ler todos, este livro foi uma lufada de ar fresco em comparação com os policiais tradicionais cheios de descrições sanguinolentas, bem como, face aos livros de época tradicionais a meu ver, demasiado eróticos e que já me maçam.

    Anne Perry descreve a sociedade vitoriana de forma nua e crua, com todas as limitações existentes na época no que diz respeito ao politicamente correcto e ao que nem sequer deveria ser pensado, quanto mais falado em alta voz. Uma sociedade para qual as mulheres não passariam de elementos decorativos cujas únicas finalidades seria o pestanejar subtilmente para o futuro marido, casar, ter filhos, tomar conta da casa e aceder a todas as opiniões do excelentíssimo marido e quiçá, um dia mais tarde de seus filhos homens.

   Este é um livro que despertará em nós, mulheres, emoções fortes. O que hoje em dia é um dado adquirido, na altura era impensável. Dar uma opinião era de mau tom, tentar fazê-la prevalecer e sendo a mesma contrária ao que o chefe de família eventualmente poderia defender, era uma ofensa grave e seria delicadamente pedido à mulher em questão que se retirasse para o seu quarto para descansar, passar água fria pelo rosto e cheirar uns sais et voilá, estaria novamente perfeita para conviver na mais fina sociedade. Uma mulher inteligente deveria demonstrar a sua inteligência de forma subtil para que o seu noivo/esposo pensasse que ele é que teria sempre razão.

   Relativamente à diferença das classes sociais, fiquei incrédula com a indignação da família aquando da primeira visita do Inspector Pitt. A polícia encontrava-se classificada como pertencente a uma das classes sociais inferiores, existindo abaixo dela apenas os criminosos. Polícia era gente de trabalho logo, nunca deveria sequer pensar em falar com uma família abastada sem que esta o desejasse, no entanto o inspector Pitt (como o seu sobrenome evoca Pitt Bull) não é homem de se intimidar com as questões sociais da época, conseguindo imiscuir-se no seio da família bem como, no coração de Charlotte! O romance entre os dois é totalmente anti-convencional, não encontramos no decorrer da obra suspiros nem palpitações mas o que deixa ao critério de nossa imaginação acaba por ser muito mais envolvente e interessante!

   As três irmãs da família Ellison; Sarah, Charlotte e Emily são a antítese umas das outras. Sarah a esposa recatada, obediente e completamente integrada na fina sociedade e Charlotte a filha rebelde que não concorda com a diferença de tratamento entre os dois sexos e que tudo faz para prevalecer a sua opinião, falando bem antes de pensar. Para mim a surpresa foi Emily. Com a leitura inicial do livro poderíamos facilmente classificá-la na mesma categoria de Sarah, no entanto Emily é uma caixinha de surpresas, o que à primeira vista poderá parecer uma cabecinha oca pensando única e exclusivamente em casar, Emily é uma personagem bastante complexa e de personalidade forte. Sabe exatamente o que quer e qual a melhor forma de o conseguir sem ir contra as regras sociais adequadas a uma senhorita pertencente à Sociedade de época, no fim de contas, um camaleão muito subtil!

   Relativamente ao ponto fulcral do livro, ao Estrangulador… para mim, devoradora compulsiva de policiais, foi uma autêntica surpresa, muito bem escondida e maravilhosamente saboreada num clímax doentio e retorcido, vítima de uma sociedade tão opressiva! Não tenham dúvidas, este é um livro fora do comum e que nos acompanhará admiravelmente por algumas horas!



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