Título: Indiscrição
Autor: Charles Dubow
Editora: Planeta
Edição: Maio de 2013
Páginas: 280
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Crítica por Isabel Alexandra Almeida para o Blog Os Livros Nossos:
Indiscrição é o romance de estreia do autor Norte Americano Charles Dubow, que nos surpreende com uma obra de rara qualidade literária, um romance contemporâneo que conjuga diversos elementos marcantes, numa sábia combinação de emotividade, intimidade, amor, amizade, valores familiares vivenciada por personagens extremamente densas e bem construídas.
A narrativa começa por nos dar a conhecer o núcleo central de protagonistas, o escritor de sucesso Harry Winslow, a sua bela esposa Maddy [um casal com uma elevada posição social aos níveis financeiro e intelectual], e o amigo de toda a vida de Maddy - Walter Gervais, um rico advogado, secretamente apaixonado por Maddy,desde a juventude, tendo ambos crescido lado a lado, que assume o papel de narrador participante, dando a conhecer a história da família Winslow, que integra também o frágil Johny, uma criança com uma doença congénita do foro cardíaco que vem ultrapassando obstáculos da rotina diária muito por força dos cuidados dispensados pelos pais, em ambiente protector, sendo também protegido pelo Padrinho Walter.
A este leque de personagens, somar-se-à a jovem Claire, esta começa por naturalmente e por força do acaso, integrar o círculo de amizades do casal Winslow, que com ela trava conhecimento na região dos Hamptons, onde Maddy tem uma casa de família na qual se reúnem amigos para conviver e saborear os sofisticados pratos gourmet cozinhados pela anfitriã.
Sucede que as vidas dos nossos protagonistas ver-se-ão alteradas para todo o sempre, devido a uma infidelidade cometida e ocultada por Harry, levando Maddy a perder a confiança no marido e a reclamar a separação.
Walter, conhecedor em primeira mão do drama familiar a que vai assistindo, acaba por nos dar a conhecer os detalhes mais íntimos da traição de Harry, afinal a "Indiscrição", que dá o título ao romance, decorrendo a acção em locais como Os Hamptons e Nova Iorque, Roma e mesmo Paris.
Curiosamente, é difícil em cada momento, é difícil não simpatizarmos com cada uma das personagens, mesmo quando não aprovamos os seus comportamentos, sendo estas vítimas das circunstâncias, presas pelas redes do amor [legítimo e ilegítimo, assumido ou secreto, mas que acaba por ser este sentimento o verdadeiro protagonista supremo de toda a obra, assumindo sempre posição de destaque e servindo de força motriz ao evoluir da narrativa].
Maddy é a perfeita esposa e mãe, que vê o casamento e a confiança depositada no marido esfumar-se por entre os dedos como se fosse um conjunto de grãos de areia, acaba por ter de reaprender [melhor ou pior] a viver uma nova vida, e sente-se mais revoltada pela mentira, e pelo facto de a traição ser também emocional e não apenas física.
Walter acaba por ser o amigo de todas as horas, como que o anjo da guarda de Maddy, mas que experimenta no seu íntimo a frustração de um amor nunca exteriorizado nem concretizado, nunca desenvolvendo relações afectivas estáveis nem constituindo família, e considerando-se mais um membro da família de Maddy, até por ter sido convidado por Harry e Maddy para padrinho do filho do casal.
Claire é uma jovem imatura, ainda a descobrir como construir o seu próprio percurso, e que anseia por encontrar a estabilidade emocional desejada. Há nesta personagem uma certa ingenuidade, e nítido conflito interno.
Harry é um escritor de sucesso, devido a um erro, vê-se perdido, sem saber que rumo tomar, e sofre ao amar duas mulheres, talvez pelas distintas essências de cada uma delas, provavelmente, uma é amada por inspirar a sensualidade e arrebatamento das novas relações, o desafio do fruto proibido [a quebra de regras sociais], a necessidade de protecção; outra é amada por ser a companheira de toda uma vida, a mãe de um filho comum, a amante, melhor amiga, uma mulher forte, sempre presente e sempre disponível para sacrificar os seus próprios interesses em nome da verdadeira admiração que nutre pelo marido. Harry acaba por ceder ao espírito boémio e provocador dos artistas, mas sofre perante as suas dúvidas, hesitações e arrependimentos.
Emotivo, envolvente, e com um final verdadeiramente surpreendente e emocionante, este é um romance que nos faz pensar na forma como os seres humanos gerem os seus afectos.
O facto de o romance decorrer dividido em quatro estações, acaba por se revelar uma metáfora das fases da vida humana, e do modo como cada indivíduo escolhe os caminhos a seguir no respectivo ciclo de vida.
Será o amor o que nos move para o bem e para o mal? Um livro sabiamente perturbador!
Nossa, curioso! Fiquei interessada e adorei a resenha!
ResponderEliminarBjs
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