terça-feira, 14 de junho de 2016

[Secção Criminal] "A Viúva", de Fiona Barton [Planeta]

Ficha Técnica:


Título: A Viúva


Autora: Fiona Barton


Editora: Planeta


Edição: Junho de 2016


Páginas: 360


Género: Thriller/Contemporâneo


Classificação atribuída no GoodReads: 5/5 estrelas


Crítica por Isabel Alexandra Almeida para o Blog Os Livros Nossos:

A Viúva é o romance de estreia de Fiona Barton, uma experiente e conceituada Jornalista Britânica que foi já nomeada Jornalista do ano pela British Press Awards.

Este thriller que agora chega ao público Português tem tudo o que é necessário para ser bem acolhido pelos leitores mais exigentes deste género literário que parece agora estar novamente bastante em voga.

A autora assume ter-se inspirado na sua experiência enquanto "observadora de formação", como a si própria de descreve na nota introdutória do livro, confessando que, na sua vida profissional, sempre se interessou pelo ângulo menos usual das histórias, nomeadamente, ponderando qual a perspectiva de quem convive com quem é acusado da pratica de um crime. Ora, a premissa inicial da narrativa é, precisamente, o que saberia a viúva de Glen Taylor, acusado de ser um monstro responsável pelo desaparecimento de uma criança.

Numa narrativa emocionante que se desenrola ao longo de cinquenta e quatro curtos capítulos, as personagens vão desfilando perante o leitor, num ritmo frenético, fazendo-o oscilar em permanente clima de tensão e de dúvida. 

A acção decorre entre 2006, data do início da investigação criminal pelo desaparecimento de uma criança - Bella Elliot - e 2010, no momento em que o seu alegado raptor e assassino - Glen Taylor - morre deixando a sua viúva - Jean Taylor, a braços com o torvelinho da imprensa gerado por este desaparecimento precoce. Todavia, a narrativa vai oscilando temporalmente, tendo início em 2010, mas ocorrendo diversas analepses que nos vão mostrando a evolução das personagens ao longo de quatro anos.

Os capítulos apresentam como título a personagem que, respectivamente, os protagoniza, nomeadamente, não referida pelo nome, mas com alguma ironia, pelo papel social desempenhado na história - " A viúva "(Jean Taylor); "A Jornalista" (Kate Waters); " O Detective" (Bob Sparkles) - que se assumem enquanto protagonistas, e no último terço da obra merecem cada um deles um capítulo "O marido" (Glen Taylor) e "A Mãe" (Dawn Elliot), correspondendo a narração, em cada capítulo, ao ângulo muito particular que cada personagem assume na economia da narrativa.

Dando especial destaque à Viúva, todos os capítulos em que Jean Taylor assume maior protagonismo são narrados na primeira pessoa, o que corresponde a uma inteligente forma de a autora conferir maior relevância a esta personagem que, aliás, dá o nome ao romance, mesmo no título da edição original que é precisamente The Widow e pode ser traduzido à letra, nada aqui se perdendo com a tradução.

Jean Taylor é uma mulher simples, da classe média, bonita, sem pretensões intelectuais, dona de casa e cabeleireira num pequeno salão de bairro, procurou realizar-se no casamento, tendo encontrado em Glen, o sedutor bancário bem vestido e bem falante, o que de mais próximo poderia sonhar em termos de príncipe encantado. Mas seria Glen um marido assim tão perfeito? E Jean será uma vítima ou uma cúmplice? Estamos perante uma mulher sofrida que se vê a braços com a pressão mediática e que esteve ao lado do marido enquanto este foi injustamente acusado de raptar a pequena Bella? Ou será Jean uma mulher perversa que premedita casa passo que dá neste drama?

Glen Taylor, inocente e injustiçado, ou um monstro sem coração?

Kate Waters, a jornalista encarregue de firmar um contrato com Jean, para conseguir vencer a concorrência obtendo as primeiras declarações da viúva que podem revelar-se bombásticas, representa toda a imprensa britânica e a sua competitividade na busca pelo furo jornalístico que pode marcar a diferença na acesa disputa entre concorrentes. Faz-nos pensar também no quão pouco inocente pode ser o papel da imprensa na cobertura de casos sensacionalistas e muito mediáticos, e faz-nos pensar sobre a ética dos media.

Bob Sparkles, o detective responsável pela investigação, mantém-se fiel ao seu objectivo, apenas poderá sentir-se bem consigo mesmo se descobrir toda a verdade sobre Bella, mas este propósito é por mero espírito de missão, ou por alguma vaidade pessoal?

Dawn Elliot, uma jovem mãe vulnerável e vítima das circunstâncias ou negligente?

Estas dúvidas, e muitas outras assaltam o leitor. Uma estrutura narrativa hábil, fascinante, com um perfeito retrato psicológico, social e sociológico tendo por base um caso mediático que, no fundo, é a soma de tantos e tantos casos reais com os quais a autora se deparou na sua vida de jornalista.

Realista, engenhoso, inteligente, escrito numa prosa madura e de leitura absolutamente compulsiva, um thriller que será, sem dúvida, um dos livros do ano! Só vai conseguir respirar fundo e descontrair quando virar a última página.





Sem comentários:

Enviar um comentário

Obrigada pela sua opinião. Os comentários serão previamente sujeitos à moderação da administração da página e dos autores do artigo a que digam respeito, antes de publicação.