Título: Os Antiquários
Autor: Pablo de Santis
Editora: Dom Quixote [Grupo LeYa]
Páginas: 232
Edição: Junho de 2013
Género: Fantástico/literatura traduzida
Saiba mais detalhes sobre a obra AQUI
Crítica por Isabel Alexandra Almeida para o blog Os Livros Nossos:
Os Antiquários, do autor Argentino Pablo de Santis, corresponde a um romance de elevada qualidade literária que nos leva até um universo oculto, misterioso e perigoso, acompanhando o percurso do nosso protagonista - Santiago Lebrón - na Buenos Aires dos anos 50, onde, após deixar a oficina do tio, onde repara máquinas de escrever mecânicas, ingressa no jornalismo, acabando por substituir um colega [entretanto falecido], que se dedicava a investigar casos relacionados com o ocultismo.
Cedo Lebrón descobre que existe todo um mundo oculto e misterioso, que se esconde por detrás das fachadas de prédios, em velhas mansões, ou em lojas obscuras. O jornal onde trabalha tem pessoas relacionadas com uma entidade supervisora do mundo do oculto - o Ministério do Oculto- e o jovem vê-se envolvido em tais meandros, ainda que bastante céptico, inicialmente.
Numa narrativa bastante elaborada, plena de simbolismos, e que acreditamos mesmos poder considerar uma metáfora da própria vida humana enquanto capacidade de sobrevivência e adaptabilidade a novos meios, ainda que inóspitos e assustadores, Pablo de Santis mostra-nos um mundo obscuro mas deveras intrigante, onde nem toda a gente é o que parece, mas no qual se torna fácil encontrar vilões e anti-heróis.
Santiago Lebrón vê-se arrastado, numa das suas investigações jornalísticas para um mundo de académicos fanáticos, que lhe revelam, da pior forma, a existência dos Antiquários, imortais [podendo ser mortos intencionalmente], que não envelhecem, tentam controlar a sua sede primordial por sangue com recurso a uma misteriosa bebida [Elixir], são normalmente coleccionadores, livreiros, vendedores de velharias ou antiguidades.
Nessa missão trava conhecimento com o Antropólogo especialista em Crenças - Professor Ballaco, e acaba por se apaixonar pela bela filha deste - Luísa.
O fio da intrincada trama em que se vê envolvido leva-o a conhecer Calisser - um livreiro de origem Francesa, que será o seu protector e que terá por missão inserir Santiago no mundo dos antiquários - onde acabará por entrar como mais um da mesma espécie, aprendendo dia-a-dia a gerir as suas novas limitações [luz solar] e necessidades [sede primordial].
A luta pela sobrevivência torna-se uma constante para o nosso protagonista, que se vê agora confrontado com actos que nunca julgou ter de cometer, mas que são uma necessidade instintiva perante a sua nova condição de antiquário.
Numa sucessiva narrativa de vários twists, o leitor acaba por querer desvendar toda a intriga e clima conspiratório da trama, onde não faltam momentos de reflexão filosófica, terror, perigo e mesmo amor, pois Luísa é a mulher que sempre terá refém o coração do nosso protagonista até ao final da narrativa, que é aberta, deixando-nos a imaginação fluir quanto à forma que seguirá o futuro de Santiago, uma personagem com a qual acabamos por simpatizar, embora cometa actos reprováveis [ou não, considerando-se o contexto].
Intriga, mistério, misticismo, e toda uma reconstrução das histórias de vampiros que, com mestria, se distingue de todos os estereótipos habitualmente usuais nesta temática [desde os vampiros góticos à imagem de Drácula ou Carmilla, passando para os vampiros amenizados, modernos, verdadeiros icons de beleza e poder masculino mais recentemente surgidos na literatura].
Interessante é também a inserção de referências históricas da Argentina [como o Peronismo], e muitas reflexões sobre a condição humana que nos fazem pensar.
Diferente, original, sabiamente tecido, e a proporcionar bons momentos de distracção aos adeptos do terror e do fantástico.
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