sábado, 23 de agosto de 2014

[Crítica] "Na pele de Meryl Streep", de Mia March [Bertrand Editora]



Autora: Mia March

Edição: Agosto de 2014

Editora: Bertrand Editora

Páginas: 344

Género: Romance Contemporâneo

Crítica por Isabel Alexandra Almeida para o Blog Os Livros Nossos:

Na pele de Meryl Streep, da autora Norte-Americana Mia March é um romance contemporâneo bastante emotivo e com elevada tensão dramática.

A narrativa tem início com um prólogo que constitui o respectivo ponto de partida, descrevendo um episódio sucedido na passagem de ano de há 15 anos atrás, que marcou o percurso de vida das protagonistas. Seguidamente, cada uma das personagens principais vai-nos sendo apresentanda, em capítulos alternados, sendo que toda a acção é narrada de acordo com esta estrutura, em que cada capítulo contém o foco apontado em especial a uma das protagonistas. Note-se que, este tipo de estrutura narrativa, além de captar a atenção e interesse do leitor, permite conferir um excelente grau de profundidade na caracterização das personagens.

As personagens principais são: as irmãs Isabel e June Nash, e a prima de ambas, e filha de Lolly Weller - Kat Weller.

Lolly Weller, respectivamente tia e mãe das três raparigas, desempenhará a importante função de personagem  âncora, que promoverá o reencontro deste grupo familiar, na Pousada  no Maine onde cresceram juntas, sem se terem então tornado muito próximas.

Neste reencontro familiar, assistimos ao nascimento de uma cumplicidade e de laços afectivos sólidos, que até ai não se haviam manifestado, e há lugar à partilha de histórias de vida, dramas, reflexões e dúvidas.

Isabel vem de um casamento destruído, pela rotina, pela anulação da sua própria identidade, em prol da relação, e pela recente infidelidade do marido Edward, sentindo ter desperdiçado dez anos da sua vida num projecto familiar que, nitidamente, falhou.

June, mãe solteira, aluna brilhante que deixou para trás o sonho de prosseguir os seus estudos universitários, encontra a sua razão de viver no pequeno Charlie, o seu alegre e ternurento filho de sete anos. Mas luta contra a mágoa de desconhecer o paradeiro do pai do menino, questionando-se quanto às razões pelas quais o mesmo desapareceu da sua vida, e prometendo à criança dar-lhe a conhecer o progenitor. Entretanto, tornou-se gerente de uma livraria, sendo verdadeiramente apaixonada pelo seu trabalho, e tendo encontrado nos patrões um excelente apoio e uma boa amizade.

Kat, filha de Lolly,  é uma jovem e inspirada profissional de pastelaria, mas vive um conflito interior que está relacionado com a  construção da sua identidade. Kat sente-se dividida entre ficar a residir na terra natal e casar-se com o seu melhor amigo de Infância, o sensível Oliver; ou partir à descoberta de novas oportunidades, novas experiências pessoais e aprimorar com grandes mestres a sua arte culinária.

Um detalhe que muito enriquece a narrativa, e confere ao romance uma especial graciosidade, é o facto de as protagonistas se reunirem semanalmente para uma sessão de cinema na Pousada. Revisitam a carreira cinematográfica de Meryl Streep, tecendo comparações entre a vida real e as vivências das diversas personagens da actriz no grande ecran, extraindo fascinantes e pertinentes reflexões acerca da vida, das decisões e escolhas que se fazem e das consequências da conduta humana.

A linguagem é bastante cuidada, porém acessível, e o romance contém parágrafos que nos fazem parar e pensar um pouco acerca de nós próprios e da nossa história de vida, convidando a uma salutar retrospecção.

Se inicialmente julgámos apenas ir encontrar uma história ligeira, a verdade é que encontramos bem mais do que isso. Trata-se de uma leitura de rara beleza e profundidade emocional e psicológica.

Recomendamos a quem goste de atentar em questões como:  os obstáculos inesperados que surgem na vida e a forma mais ou menos resiliente como decidimos enfrentá-los e a extrema relevância da vivência do mundo dos afectos, da amizade e da solidariedade, enquanto motores de uma existência plena de significado.

Surpreendente, sensível, elegante e emotivo.

Mia March é uma jovem autora cuja carreira promissora iremos acompanhar, e está de parabéns!

Classificação atribuída no GoodReads: 5/5 estrelas



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