Título: O Barão
Autora: Sveva Casati Modignani
Edição: Agosto de 2013
Editora: Porto Editora
Páginas: 504
Género: Romance
Crítica por Isabel Alexandra Almeida para o blog Os Livros Nossos:
O Barão é o romance mais recentemente publicado em Portugal da autora Italiana Sveva Casati Modignani, sob a chancela da Porto Editora, que traz ao mercado editorial Português uma obra publicada inicialmente em 1982.
Ler novamente esta autora fez-me redescobrir a sua precisão certeira na construção de personagens fortes, vibrantes e que transportam consigo fortes influências dos meios onde foram educadas, dos obstáculos que enfrentaram, mas também surgem aos nossos olhos como ambiciosas, no bem sentido da palavra, procurando sempre a respectiva afirmação em sociedade, pese embora algo possa nem sempre ter corrido da melhor forma nos respectivos percursos de vida.
Antes deste romance, havia lido, há já muitos anos, da mesma autora, A Siciliana, tendo por protagonista uma mulher forte da Máfia, numa história verdadeiramente arrebatadora, sobre o peso de meios culturais que podem moldar e interferir largamente nas vidas de personagens bastante complexas.
Nesta obra, encontramos como protagonista Bruno Monreale, um executivo milionário, cujas origens familiares remontam à Sicília [Itália]. Bruno é um verdadeiro tubarão no mundo da alta finança Internacional, bastante atento e perspicaz, deve também o seu sucesso nos negócios à preciosa ajuda de colaboradores e empregados competentes e fieis, bem como à vasta rede de contactos que lhe permite obter e cruzar informações completas sobre as pessoas ou instituições com que tenha de lidar.
Bruno é uma combinação de razão e emoção, apenas nunca se havia sentido predisposto a apostar numa relação afectiva duradoura [até porque é assumidamente viciado nos negócios], até que o seu caminho se cruza com a bela e sofredora Karin - a competente secretária do seu Advogado, uma mulher que transporta consigo um passado doloroso que bastante a marcou, e que embora apaixonada por Bruno, receia ser apenas mais um troféu na longa colecção de mulheres descartáveis que este vem acumulando sem ousar comprometer-se, com uma excepção não muito pública que envolve um casamento ritual com uma princesa Zulu - a bela Mahary
Figura sempre presente no círculo mais restrito do protagonista é o seu padrinho Caló Costa - um homem duro, oriundo da Sicília, mas também ele capaz de sentir emoções fortes e de revelar-se cruel ou bondoso consoante o contexto em que seja necessário a intervir. Assume o papel de permanente e próximo protector de Bruno, foi acolhido por caridade e criado pelo avô de Bruno, o Barão Giuseppe Sajeva di Monreale - um nobre Siciliano fiel a princípios praticamente de natureza feudal, que assiste ao confronto entre dois mundos - o dos velhos princípios e valores da nobreza local Siciliana que se vêem suplantados, a pouco e pouco, pelos interesses políticos, sustentados pelo Crime Organizado.
O avô de Bruno é uma personagem forte, que surpreende pela coragem e ousadia de defender os valores do velho mundo, não temendo mesmo desafiar a Máfia que lhe toma conta da Ilha.
Numa narrativa complexa, Sveva Casati Modignani transporta-nos entre planos alternados de presente e passado, dando a conhecer as origens familiares do protagonista e de personagens secundárias.
Com bastante detalhe, ficamos a conhecer a história de Annalisa - mãe de Bruno e única filha do velho Barão, uma jovem algo ingénua, mas também manipuladora, que por capricho e alguma imaturidade, se deixou arrastar para um casamento com um militar Norte Americano - Philip Brian, acabando por descobrir que o seu coração pertence a alguém que conhece desde os seus tempos de menina, mas em quem não havia reparado até já estar comprometida. De permeio com a acção principal, vamos desvendando os segredos e o fim trágico de Annalisa.
Bruno acaba por resultar da conjugação entre duas culturas - a norte Americana [com origem no pai] e a Siciliana [com origens que remontam à nobreza Normanda], e resulta interessante assistir às atitudes deste nosso protagonista que são o espelho das suas origens tão diversas.
A par de toda a trama familiar, vai-se também desenrolando, perante os nossos olhos, uma intriga de cariz político e financeiro, onde Bruno [o jovem Barão di Monreale] corre mesmo perigo de vida, e onde a ganância humana quase sai vencedora, numa jogada arriscada do Vilão Omar Achmad que pretende controlar um pequeno pais na África Austral - Burhwana - rico em recursos naturais, mas ao qual Bruno di Monreale se sente ligado por especiais laços afectivos.
Num ritmo narrativo sempre bastante rápido, mas requerendo uma leitura atenta, por forma a conseguirmos captar todos os artifícios e subtilezas da cuidada prosa de Sveva Casati Modignani, vamos sendo envolvidos entre passado e presente, entre tradição e perigo, entre desejo e amor em forma pura. Tudo em direcção ao desenlace final.
Um romance sólido, bem construído, e de irrepreensível qualidade, cuja leitura recomendamos sem hesitação.
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