Autora: Célia Correia Loureiro
1ª Edição: Novembro.2011
Editor: Alfarroba Edições
Colecção:
Romance
PVP: 17€
ISBN: 978-989-8455-25-3
Formato: 21 x 14 cm
Páginas: 394
Opinião/Crítica por: Isabel Alexandra Almeida (Blogue “Os
Livros Nossos”)
“Demência”, um romance da jovem autora Célia
Correia Loureiro, traça-nos um retrato nítido, realista e dramático de uma
certa mentalidade tão Portuguesa, ainda presa a estereótipos paternalistas e
maniqueístas, presente em tantas aldeias por esse Portugal fora.
Com uma escrita profunda, falando
directamente ao coração do leitor, e cativando-o, a autora demonstra saber
despertar em nós leitores toda uma panóplia de emoções, desde a ternura,
simpatia, piedade, raiva, num verdadeiro turbilhão emocional que nos vai
arrastando ao longo do processo viciante de leitura, já que torna-se imperativo
saber mais e mais sobre a vida das personagens, à medida que nos vai sendo
desvendado o seu passado, ficamos ansiosos para saber o seu futuro.
Célia Loureiro escreve com uma maturidade
que, há muito, não descobríamos em
alguém tão jovem (a autora tem apenas 22 anos).
Com “Demência”
travamos conhecimento com um leque de personagens fortes, bem construídas, com
uma carga psicológica bem marcada e delimitada.
Numa brilhante articulação entre passado e
presente (a autora recorreu a analepses para, ao longo da narrativa principal,
ir dando a conhecer o passado das principais personagens femininas e
masculinas) vai sendo sabiamente traçado um paralelismo entre as duas
principais figuras femininas – Olímpia e Letícia – respectivamente sogra e
nora, e se estas começam por nos parecer muito dispares entre si, acabamos por
descobrir que, no percurso de vida destas mulheres, há algo mais em comum do
que uma tragédia que para sempre as marcou.
Letícia é chamada por uma vizinha para tomar
conta da sogra Olímpia, a qual revela sinais evidentes de senilidade (esquecendo-se
de actividades quotidianas rotineiras, como tratar dos seus animais), trazendo
consigo as duas filhas (e netas de Olímpia) a madura Luz e a doce Maria, duas
crianças que terão de aprender a suportar o peso da história menos feliz da sua
família nuclear. As principais personagens masculinas – Sebastião e Gabriel –
homens de duas gerações distintas, acabam por ir em socorro de Olímpia e Letícia,
e simbolizam a dedicação, a lealdade e o amor, nos seus estados mais puros.
Nitidamente “Demência” arrasta-nos para uma
aturada reflexão para temas candentes do nosso quotidiano, e para problemas
sociais como: o envelhecimento populacional e as necessidades de amparo da
população mais idosa, a degradação física e psíquica gradual associadas a
doenças como a Alzheimer; a violência doméstica, as dificuldades e o isolamento
a que vivem votadas as populações em tantas aldeias do interior do País, e os
riscos de exclusão social e julgamento público, para quem, por circunstâncias
da vida, não adopte aquele que seja considerado o padrão comportamental adequado
à condição feminina, considerando-se uma visão a antiquada e mesmo “machista”
tão evidente ainda hoje em zonas rurais, e curiosamente, seguida por homens e
inquestionada por mulheres.
Com uma escrita viva, fluente e cativante,
Célia Loureiro transporta-nos para o convívio com estas personagens e as
respectivas problemáticas, e arriscaríamos mesmo a dizer que o título da obra
vai mais além do problema base que despoleta toda a narrativa – a senilidade de
Olímpia Vieira que a leva a ficar gradualmente dependente de terceiros ( e de
quem menos esperaria, como a sua nora Letícia), arriscamos a dizer que “Demência”
pode ser uma metáfora para tudo o que ainda é preciso amadurecer e evoluir em
termos sociais e humanos no pais profundo, tanto mais premente, quando se vivem
tempos complicados a todos os níveis da vivência humana.
Uma palavra final para os leitores, será
interessante atentarmos na descrição realista da vida numa aldeia portuguesa,
quem viva numa zona rural, reconhecerá vários aspectos, e quem for citadino,
encontra aqui uma boa oportunidade para ver as diferenças entre as zonas rurais
e citadinas, com tudo o que de positivo e menos positivo tal pode acarretar.
Trata-se de uma obra cuja leitura
recomendamos vivamente e que nos faz aguardar pelo próximo livro de Célia
Loureiro. Nota máxima, sem dúvida.
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