segunda-feira, 22 de agosto de 2016

[Secção Criminal] "Maestra", de L. S. Hilton [Editorial Presença]


Ficha Técnica:


Título: Maestra


Autora: L. S. Hilton


Edição: 9 de Junho de 2016


Editora: Editorial Presença


Nº de Páginas: 304


Classificação atribuída no GoodReads: 4/5 Estrelas


Género: Thriller Contemporâneo




Crítica por Isabel Alexandra Almeida para o Blog Os Livros Nossos:


Maestra, de L. S. Hilton é um thriller contemporâneo que, assumidamente, comporta uma forte componente erótica.

Trata-se de uma obra com características bastante diferenciadoras, considerando o que, ultimamente, vem sendo publicado no panorama da literatura deste género literário, quer internacionalmente, quer em Portugal.

A acção começa em Londres, onde Judith Rashleigh, a ousada protagonista desta narrativa, trabalha enquanto funcionária de base de uma prestigiada leiloeira - British Pictures. Conhecedora do mundo das artes, devido à formação académica [Mestrado nesta área], culta e com gostos sofisticados por apetência pessoal e por diversas leituras autodidactas, embora seja tenha origem social bastante humilde, sendo filha de uma mãe alcoólica, Judith sonha ascender profissional e socialmente no competitivo e elitista mundo das Galerias e coleccionadores de arte de diversos períodos históricos.

Por mero acaso, reencontra uma colega de escola - Leanne - que a desafia a colaborar com um bar de acompanhantes, onde poderá aumentar os seus parcos rendimentos, e a partir daqui tudo se precipita na vida de Judith, muito por culpa do acaso ou do destino, consoante queiramos designar os circunstancialismos de vida.

Envolvida inadvertidamente em circunstâncias menos felizes, nomeadamente, correndo o risco de ser acusada (ainda que  em boa verdade, sem que seja sua culpa directa) da prática de um homicídio, despedida do emprego na Leiloeira devido a ter-se imiscuído em esquemas menos transparentes nos quais o chefe - Rupert - era mentor e não vítima.

 Judith acaba por embarcar numa existência quase ilusória [ilusão esta que pode acabar a todo o momento] que a leva pelos locais onde habitualmente se divertem as classes altas da Europa - Riviera Francesa, Santa Margherita [Itália], Roma, Lago Como [Itália], Genebra, Paris e Veneza, onde somos brindados com uma alguma ironia e sátira social à vida fútil e de mero exibicionismo de certo Jet Set Europeu, onde o prestígio  dos homens se mede pelo tamanho dos seus Iates.

Gradualmente, vamos acompanhando bem de perto o percurso pessoal de Judith a qual se move num universo de sofisticação, risco permanente, alta tensão e iminente perigo de ser desmascarada, ingressando num crescendo de violência e crime que encara como modo natural de remover obstáculos da sua vida.

Encontramos uma anti-heroína perversa, sofisticada, culta, inteligente, amoral e totalmente desprovida de empatia e emoções (esta última constatação leva-nos a querer desvendar todos os cambiantes desconhecidos do seu passado, mas conseguimos cruzar-nos com a existência de uma mãe alcoólica e certamente ausente, com bullying escolar e com a ausência de referências a qualquer figura paterna, o que naturalmente poderá ajudar ao desenvolvimento de uma personalidade anti-social, à ausência de emoções, e à frieza canalizada para a prática de actos violentos que são encarados como perfeitamente naturais).

O erotismo que pontua toda a obra surge também enquanto factor muito entranhado na personalidade da protagonista, sendo o sexo e o desejo formas de exercício de poder e que dão a Judith a ilusão de superioridade, numa identidade pessoal que, em termos psicológicos, encontrou sérios obstáculos ao seu desenvolvimento.

Trata-se de uma obra forte, intensa, com tanto de cruel e gráfica na descrição dos crimes, quanto de viciante no seu todo.

Com diversas referências culturais, nomeadamente, no mundo da arte, cenários de sonho, alta tensão. perigo permanente, um ritmo narrativo trepidante e um inesperado final que acaba por ter o seu "quê" de cliffhanger deixando os leitores a ansiar pela continuação da história estamos perante um romance que adoramos ou detestamos (sem lugar a meio-termo) mas ao qual certamente ninguém pode ficar indiferente.

Aguardamos também, com expectativa, a adaptação da obra ao cinema que já de encontra a cargo de Cressida Wilson, a argumentista responsável pela adaptação do Thriller psicológico "A Rapariga no Comboio" .

Pessoalmente, adorámos e lemos de uma assentada, mais um título na galeria dos preferidos deste ano.



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