Crítica por Isabel de Almeida | Jornalista , Crítica Literária e Blogger:
Prazeres Infames , de Elizabeth Hoyt, é o segundo volume da Série Maiden Lane e afirma-se enquanto romance de época tendo como cenário a Inglaterra do Século XVIII, em 1737, em pleno Reinado de Jorge II e aludindo a questões sociais e históricas bastante relevantes desta época, sem deixar de ser um romance com forte componente romântica e sensual, como é usual neste género literário que não pretende ser puramente histórico.
Os protagonistas desta narrativa são Lady Hero Batten, irmã do actual Duque de Wakefield e noiva do Marquês de Mandeville e o muito pouco convencional irmão do Marquês - Lorde Griffin Reading, leviano, proprietário de uma destilaria de Gin (algo proibido na época, na medida em que o Gin era visto como um dos grandes responsáveis pelo declínio físico das camadas inferiores da sociedade, sendo até apontado como a causa de destruição de muitas vidas e famílias, devido à dependência alcoólica que potenciava) é olhado de lado entre a Aristocracia da qual faz parte o irmão, mantém com este uma relação bastante disfuncional pautada pela mágoa e graves mal entendidos.
O Marquês de Mandeville tem tudo para ser considerado um bom partido para uma dama de elevada condição social como Lady Hero, e esta, não estando apaixonada, encara com naturalidade a perspectiva de casamento com um hábil político com créditos firmados na Câmara dos Nobres, e muito habituado às rígidas convenções sociais impostas à Aristocracia Inglesa, tal como a noiva.
Se há ideia que Lady Hero sempre interiorizou é a de que tem de ser a muito respeitada e respeitável filha de um Duque, com todas as implicações que dai advenham para si, tais como abdicar de um verdadeiro amor para cumprir o que de si se espera, cumprir regras, não dar nas vistas, não de deixar levar por emoções e impulsos que sejam menos próprios para uma Senhora. "
A filha de um Duque cedo aprende na vida a etiqueta para quase tudo" [p. 9]. A autora dá-nos a noção perfeita do rígido código de conduta que se impunha à alta sociedade da época, e Lady Hero vai relembrando sempre os seus deveres:
"Uma senhora do seu estatuto jamais mostrava impaciência." [p. 24] mas rapidamente entra em conflito interno consigo mesma, ao sentir uma inevitável atracção física pelo cunhado, recriminando-se e culpando-se por ter sentimentos, impulsos, e por querer viver a sua própria vida, no fundo, Hero luta contra a sua ideia de ser a dama perfeita, que não erra nem pode dar-se ao luxo de o fazer:
" Onde quer que estivesse, Hero nunca se esquecia de como devia comportar-se." [p. 28].
Por sua vez, Lorde Reading é espontâneo, autêntico, e há muito que não se preocupa minimamente com os pruridos da alta sociedade que frequenta, antes mostrando divertir-se com o facto de conseguir chocar o próprio irmão (aparentemente tão seguro e tão cheio de si mesmo) e os salões que frequenta algumas vezes.
A obra, dando continuidade à linha seguida no início da série, dá destaque também à evidente cisão entre dois mundos sociais dispares, totalmente opostos. Por um lado temos o mundo dos ricos salões da Aristocracia, e do debate e intriga políticos que se defrontam no Parlamento, por outro, somos levados a percorrer as ruas perigosas do East End e da Saint Giles, os bairros malditos da Cidade de Londres, onde o Gin, a prostituição e a miséria tantas vezes eram reis e senhores, e onde se move por entre as sombras um misterioso justiceiro conhecido por Fantasma de Saint Giles ( e nesta personagem fictícia surge a aura de mistério e suspense que confere um colorido também ele especial a esta trama bem construída por Hoyt).
A protecção a crianças órfãs que são acolhidas num Lar acaba por ser o elo de ligação entre os dois mundos tão diferentes, e algumas damas da alta sociedade dão o seu contributo para tornar melhor a vida destes órfãos, numa tomada de consciência de que as coisas podem melhorar se houver um esforço nesse sentido por parte de quem mais tenha acesso a recursos financeiros.
Obviamente não fica esquecida a acentuada sensualidade que a autora conferiu à história e à dinâmica entre os protagonistas, mas trata-se de uma das séries onde a contextualização histórica e social e a mentalidade da época abordada surgem melhor retratadas, pelo que o livro tem tudo para agradar a dois géneros de leitores: os que gostam de história e os que gostam de romance e sensualidade com os dilemas tão próprios de outras eras e de outras mentalidades.
Dever, paixão, emoção, entrega, mistério, sensualidade, personagens fortes, bem construídas e que nos apaixonam fazem deste livro uma excelente escolha para os adeptos de romances de época, sem hesitações, deixe-se perder entre estas páginas!
Ficha Técnica
Autora: Elizabeth Hoyt
Série: Maiden Lane - Volume 2
Edição: Abril de 2017
Nº de Páginas: 360
Classificação: 4|5 estrelas
Género: Romance de Época | Sensual